


.

Imagem roubada do Mosteiro dos Jerónimos, onde Vasco da Gama se ajoelhou antes de partir para a ìndias

Quadro de São Pedro de Grão Vasco

Algumas obras do Tesouro de Nossa Senhora da Oliveira

Coroa roubada em Haia

Há várias teorias da conspiração sobre o desaparecimento do valioso tesouro de Nossa Senhora da Oliveira. Já passaram 50 anos! E nada. O roubo ocorreu no Museu Alberto Sampaio, em Guimarães.
O assalto foi em pleno dia, imobilizaram um dos guardas do museu e levaram uma coroa, uma meada com 32 metros, um cordão, um grilhão e uma cruz indiana, tudo em ouro, além de um peitoral em prata dos séculos XVII e XVIII.
A Polícia Judiciária apurou que as jóias foram derretidas. Mas uma jóia derretida baixa de forma considerável o seu valor.
Um ex-tenente do Exército e uma ex-secretária de um partido político foram acusados do roubo e refugiaram-se no Brasil.

Ambos foram condenados à revelia, respectivamente, a 20 e 15 anos de cadeia, e ao pagamento de um milhão de contos ao Estado português, que não cumpriram.
No fim nem se recuperou as obras, nem se viu o pagamento e parece desconhecer-se onde está o tal metal fundido.
CRESCEM OS ROUBOS EM MUSEUS E PALÁCIOS
A falta de meios humanos da Policia Judiciária tem causado a Portugal milhões de euros de prejuízo e a perda definitiva de obras de arte insubstituíveis.
Isabel Maria Fernandes, responsável pelo centro cultural de Guimarães afirma que "foi um grande atentado à nossa cultura".
"0 nosso País é um paraíso para os ladrões de obras de arte". Pinturas, esculturas, móveis, porcelanas, jóias, marfins e pratas são o principal alvo dos roubos, devido à sua elevada qualidade.
Os museus e palácios têm registado uma crescente onda de roubos de peças únicas muito valiosas. No ano passado ocorrem nove roubos comunicados à Policia Judiciária em museus de Ponta Delgada, Braga, Aveiro e Lisboa.
ROUBOS MUDAM CRITÉRIOS DE EMPRÉSTIMO
Peças como o Loudel de D. João I e o Tríptico Comemorativo da Batalha de Aljubarrota deixaram de ser emprestadas pelo Museu Alberto Sampaio, de Guimarães,.
As fundações Gulbenkian e Serralves e o Instituto Português de Museus, com a tutela 29 museus, têm investido em modernos sistemas de protecção e de vigilância, como alarmes e câmaras de vídeo a funcionar 24 horas por dia.
Mas a maior mudança veio com o roubo de jóias portuguesas em Haia, nos Países Baixos.
Um roubo nunca visto, desapareceram obras muito valiosas em apenas 17 minutos. Foi a maior delapidação de jóias do Palácio da Ajuda.

LADRÕES ENTRAM POR JANELA DE MUSEU DE HAIA!
O Palácio guarda as jóias reais e emprestou várias no âmbito de uma mostra criação de obras de arte com diamantes em Haia, nos Países Baixos.
Os ladrões arrombaram uma simples janela do Museu de História Natural de Haia e levaram as jóias, sem deixarem rasto. "Eram das peças mais valiosas do nosso património", lamenta Luís Castelo Lopes, especialista em joalharia da leiloeira Palácio do Correio-Velho,
As jóias estavam seguradas em seis milhões de euros, mas o seu valor artístico é bastante superior. As mais importantes jóias roubadas são um castão de bengala e um diamante em bruto.
O primeiro, em ouro cinzelado, estava cravejado com 87 diamantes, pesando o principal 24 quilates. Foi executado para o Rei D. José, entre 1759 e 1770, por um famoso ourives parisiense.
´FOI-SE` UM DOS MAIORES DIAMANTES
O segundo, é um diamante proveniente de minas brasileiras de 135 quilates, um dos maiores do mundo.
As restantes peças desaparecidas incluíam uma gargantilha com 32 brilhantes de 15 quilates, um anel com um diamante de 37

quilates e dois alfinetes de 43 quilates em forma de trevo. Em dois anos de investigações, a polícia portuguesa e a dos Países Baixos fracassaram por completo. Não encontraram qualquer pista.
"Habitualmente as jóias furtadas nunca aparecem pois acabam por ser lapidadas, desmanchadas ou vendidas clandestinamente", específica Luís Castelo Lopes, especialista em ourivesaria e administrador da Artbid.
A forma como foram cedidas as obras pelo Palácio da Ajuda foi alvo de severas críticas.
OBRA DE ARTE VIAJA NO COLO DE HISTORIADOR
Actualmente existem restrições relativas à circulação de 1200 das nossas obras mais valiosas e frágeis.
Entre elas destacam-se o quadro São Pedro, de Grão Vasco, do Museu de Viseu, o tríptico Tentações de Santo Antão, Os Painéis de São Vicente e a Custódia de Belém, do Museu de Arte Antiga, de Lisboa.
Recorde-se que a última destas peças foi ao colo do historiador Reynaldo dos Santos na viagem de avião para a mostra Arte Portuguesa 800-1800, em Londres.
"A colecção Gulbenkian tem também obras que jamais sairão de Lisboa, caso da estátua Diana, de Hondon, e o retrato de Madame Claude Monet, de Renoir", revela João Castel-Branco, ex-director do museu daquela fundação.
"As pinturas sobre madeira, os têxteis e os manuscritos", exemplifica, "merecem-nos também grande cuidado, dado serem extremamente delicados".
"Os roubos estão a crescer entre nós, atingem verbas consideráveis", revela-nos um inspector da Policia Judiciária. "A falta de meios técnicos e humanos não permitem grandes investigações ".

Museu Alberto Sampaio não dará trabaho à Policia Judiária, aprendeu com o susto de 1975 e não deixará sair o Loudel de D. João I e o Tríptico Comemorativo da Batalha de Aljubarrota.
GRAÇA MORAIS ROUBADA EM BELÉM
Também o Museu da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, foi roubado, ficou sem colecção de numismática romana.
Pouco depois desapareceu uma imagem indo-portuguesa em marfim representando o Menino Jesus. Feitas as participações à polícia, aguardou-se e não houve quaisquer resultados.
O Paço Ducal de Vila Viçosa viu desaparecer de todos os seus mantos reais bordados a ouro. Do Museu de Arte Sacra de Viseu foi roubada uma rara cruz bizantina do século XII. Da Casa Museu José Relvas foram roubados relógios de Limoges, porcelanas da Companhia das Índias, desenhos de Delacroix e uma escultura flamenga.
E até no Centro Cultural de Belém foi roubado um quadro de Graça Morais.
O Museu do Teatro em Lisboa não escapou e foi alvo de sonegação de jóias de cena, usadas por grandes actores portugueses.
AMADEU TAMBÉM FOI ROUBADO
Do Museu Amadeo de Souza Cardoso foi roubada uma tela uma tela de Amadeu. Da Igreja do Mosteiro dos Jerónimos foi roubada a imagem de Nossa Senhora de Belém, a quem Vasco da Gama orou antes de partir para a Índia.
A lista é longa e não está completa. Também nos jardins dos palácios de Queluz e de Monserrate têm desaparecido diversas estátuas em pedra.
A historiadora Raquel Henriques da Silva afirma: "A itinerância de obras de arte faz aumentar os perigos de roubo, além disso os tesouros nacionais não devem viajar. As pessoas devem deslocar-se aos países onde eles se encontram, para os ver".
Corre entretanto o rumor, no mercado de arte, de uma colecção obtida exclusivamente através de roubadas, localizada numa cidade alemãna. Quantas mais existirão no mundo?
Que coisa bizarra! Mas tenhamos esperança em lá encontrar alguns dos nossos tesouros, para os trazer de volta a Portugal.
António Brás.

Cómoda milionária
Por 253 mil euros foi leiloada uma meia cómoda D. José (séculoXVIII) no Palácio do Correio Velho, em Lisboa. Trata-se de um top verificado em transacções de mobiliário português. Peça em pau-santo, finamente entalhada e com ferragens em bronze, pertenceu à colecção José Abecassis que a adquiriu em Londres, em 1972 por 1000 euros. É considerada um dos melhores exemplares da marcenaria nacional de todos os tempos.

Palácio Ratton em livro
Esta publicação constitui um documento expressivo daquele imóvel que alberga o Tribunal Constituicional.
Da autoria do arquitecto Helder Carita, investigador da casa-nobre portuguesa, é um valioso contributo para a história de Lisboa.
O autor testemunha a evolução do edifício, inicialmente habitado pelos Ratton, que o edificaram no inicio do século XIX.

Novo museu
Abandonado, arruinado e desprezado, o Palácio dos Condes da Ribeira Grande foi recentemente recuperado pelo empresário Armando Martins. Erigido nos séculos XVII e XVIII, nele habitou a família Câmara, capitães-donatários de Ponta Delgada ao longo de séculos.
Desde finais do século XIX, o imóvel conheceu diversas transformações salvando-se a capela, alguns painéis de azulejo, a escadaria e alguns salões.

PALÁCIO DUQUES DE PAMELA
Doze milhões de euros é o valor pedido pelo Palácio Palmela/Campilho, em Cascais. Trata-se de um imóvel edificado em 1866 pelos III Duques de Palmela que contrataram o arquitecto Thomas Henry Wyatt. internacional
Já no dominio da joalharia , um valioso conjunto de jóias portuguesas e europeias dos séculos XIX e XX tem vindo a ser apresentada pela joalheira Alexandra Matias, em Lisboa.
As peças adquiridas em Portugal e França integravam uma importante colecção de artes preservada num amplo andar no centro de Lisboa.

Colecção de jades Pedro Guimarães
A colecção do decorador Pedro Guimarães, constítuida por fundamente por jades da dinastia Song aos nossos dias, tem vindo a ser leiloada na Casa Marques dos Santos, no Porto.
Os vários leilões despertaram as atençõies internacionais pelo valor e raridade do conjunto.
O coleccionador, falecido no ano passado, juntou esse acervo nas suas muitas viagens ao oriente, conservando-o nas suas casas do Porto e Sesimbra. O conjunto de jades, hoje quase impossivel de reunir, exemplifica essa arte aos longo dos séculos.
Pedro Guimarães pensara transformer a casa de Sesimbra num museu de arte oriental, mas o seu desaparecimento prematuro deitou por terra esse sonho. António Brás

Reinauguração do Museu de Setúbal
O Convento de Jesus conhece actualmente uma nova fase, tendo sido objecto de grandes obras para preservar o incalculável acervo do Museu de Setúbal. Nele podemos observar um vasto espóilio relacionado com a cidade do Sado.
O autor do projecto, eng. João Botelho Moniz, juntou nele os acervos da Santa Casa da Misericórdia, da Câmara de Setúbal e de inúmeras doações. Os seus amplos salões são engrandecidos por azulejos, cantarias e tectos pintados. Neles podem contemplar-se pinturas dos últimos 500 anos

David triunfa na Sala dos Arcos
O espaço é dedicado exclusivamente ao azulejo barroco e rococo, onde se destaca o paínel "O Triunfo de David", obra imponente com nove metros de cumprimento por 1, 70 de altura.
Desde o período árabe que o azulejo faz parte do nosso quotidiano, tendo o seu maior incremento ocorrido no século XVI, época de prosperidade dilatada pelos Descobrimentos.
Várias fábricas surgiram a partir de então, permitindo alargar, popularizar a sua utilização.
A mais célebre foi a do Rato, em Lisboa. Actualmente destacam-se a Sant`Ana e a Ratton

Na primeira metade do século XX observou-se uma renovação no seu sector, na qual se destacaram os nomes de Rafael Bordalo Pinheiro, Pedro Jorge Pinto, Pereira Cão e Jorge Colaço.
Nas gerações seguintes, artistas como Maria Keil, Sá Nogueira, Almada, Alice Jorge, Pomar, Eduardo Nery, Vieira da Silva, Menez, Cargaleiro, Lourdes Castro, Querubim Lapa e Bela Silva, enriqueceram, diversificando, esse impulso criativo.
António Brás
UM PSICÓLOGO COLECIONADOR
O psicólogo Jorge Manuel da Silva Ferreira, já falecido, que dedicou a vida a coleccionar pintura, desenhos e gravuras de artistas portugueses dos anos 60 a 2015, era, no entanto, quase desconhecido no meio.
Todos os seus rendimentos iam para adquirir obras de arte e livros que enchiam dois apartamentos, (um t1 e um amplo t2) na zona de Cascais. primitivas africanas e um diminuto núcleo de cerâmicas e vidros.
O acervo totalizava 420 obras. Os últimos anos do colecionador revelaram-se particularmente dificeis. Recusando tratamentos a um tumor, acabou por morrer durante a pandemia de Covid no Hospital de Cascais.
A quase totalidade dos herdeiros (12),recebeu o seu espólio. Sem filhos, com vagos primos, passou o tempo
Todos os seus rendimentos iam, no entanto, para adquirir obras de arte e livros que enchiam dois apartamentos, um t1 vagos , passou mais de quarto décadas a coleccionar de Figueiredo, Pedro Saraiva, Ruth Rosengarten, Rui Serra, JoãoSalema, Inez Teixa.
Trata-se de um excelente núcleo dos principais gravadores entre Viseu e o seixal, descobrem um familiar que a maioria nunca conheceu.
A colecção (invetarida por mim e leiloada em duas casas de Lisboa) atingiu largas dezenas de milhares de euros, tendo os apartamentos sido colocados no mercado.
Todos os sonhos de imortalidade se desfizeram. António Brás
Natureza Morta de Eduardo Saraiva

Uma cadeira do tempo de Gonçalo Mabunda



Quando Natália pintava
Uma das facetas menos conhecidas de Natália Coreia foi a de pintora. Polifacetada, ela destacou-se, para lá da poesia, como cantora, jornalista, conferencista, editora, tradutora, deputada eretratista, retratos a óleo que fez durante dois anos, de singular expressividade e cromatismo.
Em fase de profunda depressão motivada pela morte da mãe, figura decisiva na sua vida - morte de contornos misteriosos quando se encontrava no Brasil - refugiou-se na pintura como, afirmava, "terapia, tábua de salvação", que lhe permitiu, ultrapassada, retomar a escrita, sobretudo da poesia, a sua verdadeira forma de expressão.
Desses retratos salientam-se o de Urbano Tavares Rodrigues (hoje no Museu Carlos Machado), o de Mariana Vilar (colecção particular) e dois auto-retratos, todos de tonalidade melancólica, obtida por cores de penumbrea suavidade e interioridade. Almada Negreiros, seu amigo de sempre, insistiu durante anos com ela para continuar a pintar, o que recusou – e, no final da vida, lamentou porque "se o tivesse feito estava rica e podia dispor de um motorista, uma das minhas ambições. Se há tanto funcionário que o tem sem nada criar, por que não oter eu também?"
Natália conduzia (muito mal) um velho Carocha, depois de ter espatifado um Fiat ferindo com gravidade o seu marido de então, o sr. Machado, e o que se lhe seguiu, o cineasta Dórdio Guimarães.
Iam os três para Castelo Branco, de noite, quando ao passarem nas Portas do Ródão surgiu um camião TIR, todo iluminado. Maravilhada, ela exclamou, largando o volante, "parece uma catedral"! e estapou-se. Saiu ilesa.
Espreitar o passado de Lisboa no Museu do Chiado


Uma retrospectiva do retrato ao longo dos tempos encontra-se agora no Museu do Chiado.
A exposição, que engloba óleos,desenhos, fotografias e esculturas, vai de 1850 a 2023.
Entre os objectos expostos sobressaem obras fundamentais da arte portuguesa, caso de criações de António Manuel da Fonseca, Visconde de Meneses, Tomaz da Anunciação, Cristino da Silva, Columbano, Veloso Salgado, Mário Eloy, Amadeu de Sousa Cardoso.
Na mostra, ampla e diversificada, podemos ainda observar peças de Santa Rita Pintor, Júlio Pomar, Helena Almeida e Lourdes Castro, entre outros, que nos revelam a contínua evolução da arte (neste caso o retrato) desde o romantismo ao abstraccionismo, passando pelo naturalismo e modernismo.
O retrato revela-se fundamental na nossa cultura, pois os poderosos gostam de eternizar-se através dele, contratando os melhores artistas.
As obras provém do acervo do Museu do Chiado que detém a principal colecção de artes plásticas nacional – isso explica o vasto conjunto de trabalhos de Columbano.
Na exposição nota-se, no entanto, a ausência nomes como Medina, Malta ou Pinto Coelho (representados no museu) que tiveram, como se sabe, ampla carreira na Europa.
A escultura revela-se parca, destacando-se Soares dos Reis. O retrato em Portugal encontra-se relativamente bem estudado, especialmente por José Augusto França - nunca tendo sido, porém, realizada qualquer retrospectiva sua entre nós.
Em tempos, as principais casas nobres, ou religiosas, tinham galerias de retratos. A abolição das ordens religiosas e dos morgadios, respectivamente em 1834 e 1864, provocou a dispersão desse expressivo património.
A carreira de pintor-retratista era muito pretendida e a qualidade dessas obras também variava. Na actualidade podemos observar galerias de retratos nas casas de Sezim, Fronteira, Anadia e Mateus.
Outras galerias, caso das de irmandades e beneméritos de misericórdias, revelam o tradicional gosto pela homenagem, e pela perenidade.
António Brás
Museu de Arte antiga recebe 10 milhões

usando telemóvel ou tablet cique no canto superior esquerdo para ver as outras paginas



Maria de Jesus Monge
O Museu de Arte Antiga vai levar uma reviravolta de 10 milhões de euros, que serão injectados pelo Estado. Mas não é só dinheiro! No topo ficará Maria de Jesus Monge - que anda a ser apoucada com polémicas sobre a sua carreira.
A nova directora é licenciada em história e mestre em museologia. Foi directora do Paço Ducal de Vila Viçosa entre 2000 e 2023 (vinte e três anos) e o resto são histórias sem tino.
Estou, aliás, ansioso para ver a primeira reviravolta no Museu Nacional de Arte Antiga, com 140 anos e apenas cinco mulheres no cargo de director: Maria José Mendonça, Maria Alice Beaumont e Ana Brandão e agora Maria de Jesus Monge.
Todas elas deixaram grandes obras. E com Maria Mendonça e Maria Alice assistiu-se a um notável enriquecimento do acervo.
A moldura exigente
Maria Monge vem colocar a cabeça numa ´moldura` exigente. Ou brilha ou fica exposta ao escárnio e mal dizer abominado por padre António Vieira, nos seus sermões há já 500 anos.
Eu visito com frequência o Museu Nacional de Arte antiga para ver e rever os famosos Painéis de São Vicente de Fora, envoltos em grandes discussões sobre os seus personagens, posições e capacidades. Pois, também acontece nos Paineis!
Maria Monge merece desde logo um apoio incondicional por aceitar o cargo e por trazer a mala do dinheiro em falta há muito.

O antigo Palácio Portugal da Gama (ou Palácio de São Roque) na margem do Bairro Alto, com entrada nobre pelo Largo Trindade Coelho foi objecto de um livro descritivo.
Nas suas páginas olissipógrafos e investigadores de diferentes áreas divulgam a recolha documental realizada.
Desde as várias transformações arquitectónicas até às as caraterísticas patrimoniais e decorativas do palácio.
É exposto o projeto de reabilitação do edifício, com o objetivo de o tornar util.

ORIENTE SEDUZ LISBOA
O novo espaço cultural da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, denominado Casa da Ásia, agora inaugurado, revela -se uma surpresa.
O restauro do antigo Palácio Portugal da Gama, onde se situa, foi criterioso e de bom gosto, atingindo a colecção que apresenta atinge um nível internacional invulgar, pela qualidade e diversidade. Sóbria e coerente, revela-se única entre nós, sendo de assinalar o investimento nela feito pela Santa Casa.
O País tem, finalmente, um museu da verdadeira arte oriental, longe das obras de encomenda, tão admiradas entre nós por exprimirem as relações económicas, políticas e culturais de Portugal com a China, a Índia, o Vietname, a Tailândia e o Japão.
A exposição expande-se por dois andares, harmonizando-se pela estrutura palaciana do edifício, com os seus amplos salões, escadarias e pátio interior, os amplos salões e o intimista pátio interior.
Os países representados têm, sublinhe-se, culturas milenares, individualizadas e universalizadas.
A recolha das obras deve-se ao coleccionador Francisco Capelo, homem de colecções e de cultura, salientando-se terracotas, porcelanas, pinturas, mobiliários, lacas, metais, esculturas e têxteis, que abrangem quatro séculos.
A Casa da Asia, com depósitos ao nível dos grandes acervos mundiais, pretende continuar a enriquecer o seu espólio para não estagnar, como tantas vezes acontece noutros museus. António Brás


Um Picasso no Museu do Caramulo

Há meio século, um jovem economista português, Abel de Lacerda, chega ao Castelo de Púbol, em Espanha, para encontrar-se com Salvador Dali.
Este recebe-o e falam animadamente de assuntos artísticos. No final oferece-lhe uma magnífica aguarela denominada "Cavaleiro Romano na Ibéria". Com esse gesto, aliás singular na altura, Dali torna-se um mecenas português.
Apaixonado pelas artes e pelo desenvolvimento cultural do nosso País, Abel de Lacerda ambiciona fundar um museu com base no mecenato, pois todas as obras de arte deviam ser oferecidas por seus autores, empresários e coleccionadores.
Dotado de enorme sensibilidade e empenho, o jovem consegue reunir,

dessa maneira, 150 obras - pinturas, esculturas, cerâmicas, tapeçarias, móveis, pratas e marfins desde a pré-história ao século XX.
O fim trágico
Paralelamente, Abel de Lacerda planeia a construção no Caramulo, onde a família era detentora da maior estância senatorial da Europa, de um museu. No entanto morre em 1957, num trágico acidente de viação, decidindo a família e os amigos criar uma fundação com o seu nome.
Dois anos depois é inaugurado no Caramulo o Museu Abel de Lacerda. Uma das peças que, nele, despertará maior atenção será a aguarela de Salvador Dali. Nela, o artista catalão retrata, como o título indica, um cavaleiro - guerreiro que vai caminhando sob nuvens ameaçadoras numa paisagem

Um Alba (1952) português único feito para competição
montanhosa e agreste. O quadro, obra de traço classicizante, contém notórias influências surrealistas. Durante décadas ela foi a única peça de Salvador Dali exposta entre nós.
Centenário de Abel de Lacerda
Abel Lacerda é considerado um dos maiores beneméritos portugueses. Bisneto, neto e filho de médicos decidiu, no entanto, seguir Ciências Económicas e Financeiras. A morte do pai, Jerónimo de Lacerda em 1945, obriga-o a fixar-se no Caramulo e a administrar o império familiar. Ao mesmo tempo colecciona obras de arte, convivendo com artistas e coleccionadores. Sonha criar um museu próprio, diferente dos existentes,

Quadro de Amadeo de Souza Cardoso
ideia que se torna realidade ao conseguir o apoio de 100 personalidades e doações de 150 obras de arte.
Museu foi convento
O arquitecto Alberto Cruz projecta o futuro museu. Trata-se de um edifício clássico, de grande qualidade, em quadrado. Ao centro foi colocado o claustro oitocentista do Convento da Fraga, de Satão, então em risco de perder-se.
iA inauguração dá-se em 1958 não parando, a partir daí, do seu valioso acervo crescer e diversificar-se. Nele destaca-se uma enorme abrangência temporal desde o Neolítico ao século XX.
A pintura é o seu núcleo forte, abrangendo cinco séculos, com quadros excepcionais de Grão Vasco, Fernão Garcia, Diogo de Contreiras, Frei Carlos, Franz Pourbus, Jacob Jordaens, John Gorgon e Domingos Sequeira.
A arte-contemporânea portuguesa é outro sector muito qualificado, havendo obras desde o naturalismo aos nossos dias, evidenciando-se trabalhos de Silva Porto, Amadeo de Souza Cardoso, Aurélia de Sousa, Eduardo Malta, Eduardo Viana, António Soares, Francis Smith, António e Carlos Carneiro, Vieira da Silva e José de Guimarães.
Dali e Rodin pontuam na colecção
O núcleo principal é pontuado por obras internacionais – Dali, Picasso (tela denominada Natureza-Morta), Fernand Léger, Raoul Duft e Rodin.

Quadro de Salvador Dali
Nos têxteis, outra presença marcante, destacam-se tapeçarias de Tournay - série quinhentista comemorativa da chegada dos portugueses à Índia, conjunto de projecção mundial.
As artes decorativas, portuguesas e europeias, abrangem a faiança, o vidro, o esmalte, a porcelana, a ourivesaria, a joalharia e o mobiliário, contendo obras-primas, como uma garrafa chinesa datada de 1552, uma salva quinhentista em prata com brasão dos Almeida e dos Mello, e diversas arcas açorianas dos séculos XVI-XVII.
A arte Lusa-Oriental e Namban encontra-se representada através de exemplares de grande raridade na pintura, escultura, têxteis e marfins.
O último núcleo, o dos automóveis, constitui a maior colecção existente entre nós, com modelos de 1886 a 2000.
António Brás







A Fábrica do Rato é uma referência na história da faiança portuguesa. As suas peças estão em grandes museus portugueses e estrangeiros e, sobretudo, no mercado de antiguidades.
Foi fundada há 250 anos em Lisboa e marcou a renovação das faianças, com criações de invulgar qualidade. Teve a benéfica influência da prataria francesa e das porcelanas da Companhia das Índias.
Na sua primeira fase, a produção, dirigida pelo italiano Tomás Brunetto, privilegiou, maioritariamente, bustos, estatuetas, potes, terrinas e aquários pintados com motivos naturalistas, em tons de branco, verde, amarelo e azul. Mas sua aceitação foi diminuta.
A nobreza preferiu as porcelanas provenientes da China, Inglaterra e França e a burguesia considerava-as algo bizarras e fora de moda.
Marquês apoiou Faianças do Rato
A nossa antiga a tradição de menosprezarmos o que é nosso, atingiu as Faianças do Rato, no campo das artes.
As encomendas foram sempre diminutas e destinavam-se mais a agradar ao Marquês de Pombal do que ao gosto vigente. Foi o Marquês quem ajudou à sobrevivência da manufactura, apesar dos prejuízos, com os armazéns sem escoamento, as vendas ao desbarato, e as críticas demolidoras.
A escolha de Sebastião de Almeida, em 1771, para mestre da manufactura, marcará o início de um rumo diferente.
É lançada a produção em quantidade de objectos de forte consumo, como serviços de mesa e azulejos, muito utilizados na decoração de palácios, igrejas e prédios da cidade.
Predominavam os temas naturalistas e figurativos, com tons azuis, como observamos nos painéis do Paço Real de Caxias, Palácio Pombal de Oeiras, Palácio de Queluz, Quinta dos Azulejos, em Lisboa, e Palácio de Queluz. São exemplos relevantes.
Gostos do Povo levam à falência
As dificuldades voltaram a agravar-se, quando as Faianças do Rato procuram satisfazer o gosto popular. As encomendas da nobreza e da burguesia caíram.
Foi o êxito comercial popular que perverteu a identidade cultural das obras. Joaquim Milagres, nome destacado no sector, tentou entre 1811 a 1817 inverter a situação, investindo em linhas recuperadoras de exigência e qualidade iniciais. Sem resultado positivo, porque os prejuízos disparam, levando à falência da Fábrica de Faianças do Rato.
Segue-se um longo período de esquecimento, apenas quebrado pelos estudos de José Queiroz em 1907 e de Arthur de Sandão, décadas mais tarde. Recentemente o historiador José Meco considerou a Faiança do Rato a "mais brilhante realizada em Portugal, do século XVI à actualidade".
Muitos anos atrás, em 1936, a Câmara Municipal de Lisboa promovera a "Mostra de Cerâmica Olissiponense e, graças ao esforço do investigador Dom José Pessanha, revelaram-se conjuntos inéditos de trabalhos de artificies do Da Fábrica de Faianças do Rato.
Duquesa funda Faianças do Ratinho
Os museus de Arte Antiga e do Azulejo e da Cidade, em Lisboa, têm vários conjuntos das Faianças do Rato. O mesmo sucede com o Museu da Cerâmica nas Caldas da Rainha, o Paço Ducal em Vila Viçosa e o Museu da Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro, no Porto.
As colecções de António Capucho, Maldonado de Freitas e António Espírito Santo, dispersas em leilões nos últimos anos, têm igualmente exemplares de enorme valor.
A duquesa de Palmela e a condessa de Ficalho eram apaixonadas pelas manufacturas das Faianças do Rato e criaram, nos finais de 1800, a Fábrica do Ratinho, num pavilhão do Palácio Palmela, em Lisboa. Apesar da qualidade atingida, esta iniciativa seria fugaz.
Fainças atingem preços historicos
O mercado de arte português "redescobriu" a Faianças do Rato sobreviventes e valorizou-as de maneira ímpar.
Um par de bancos de jardim, da colecção Palmela, atingiu 10 mil euros; um conjunto de quatro bustos representando as quatro estações chegou aos 40 mil euros; um par de cabos para colheres foi arrematado por 3 mil euros; uma tampa de selha foi vendida por 5 mil euros; um cesto de fruta subiu aos 5 mil euros e uma terrina foi transaccionada por 27. 500 euros.
Esse património é uma referência preciosa da criatividade, da originalidade dos nossos artistas. E quem tem estas peças faz um investimento seguro em faianças da mais alta qualidade.
António Brás
.











Pormenor de um dos quadro mais famosos de Delacroix

António Medeiros de Almeida


"Na eventualidade de aumentarem as minhas dificuldades financeiras, preferirei recorrer à mendicidade do que desfazer-me de qualquer das peças que com tanto amor coleccionei para as deixar ao meu país", escreveu em 1978 António Medeiros e Almeida, referindo-se às 3000 mil obras de arte da Fundação com o seu nome, inaugurada cinco anos antes, então em risco.
Foi o importador dos 'Morris'
Medeiros e Almeida tinha 83 anos e uma vida activa. Ganhara, como empresário, milhões em negócios de automóveis (importador da Morris), fábricas de álcool, açúcar e tecidos, em companhias de navegação e aéreas (o avião do filme Casablanca era de uma empresa sua), entre outros empreendimentos.
O capital conseguido foi, quase todo, investido em obras de arte, bem como na aquisição de dois palacetes com vasto terreno no centro de Lisboa. A revolução alterou-lhe, porém, o nível de vida. A limousine Austin Princess foi substituída por um mini, o pessoal dispensado, as aquisições de obras de arte canceladas, as festas extintas.
Medeiros de Almeida ligado Diana de Gales
A preservação da colecção, exposta numa moradia oitocentista e num anexo construído nos anos 70, tornou-se-lhe, a partir daí, a maior preocupação – como o texto acima bem exprime.
O espólio da fundação abrange mobiliário português, francês e inglês dos séculos XVII, XVIII e XIX, pinturas de Gossaert, Van Goyen, Moro, Ribera, Tiepolo, Boucher, Delacroix, bem como escolas de Rembrandt e Rubens, terracotas chinesas e porcelanas da Companhia das Índias, tapeçarias francesas e flamengas (uma delas desenhada por Rafael),
E ainda uma baixela inglesa oitocentista (encomendada pelo duque de Richmond, antepassados de Diana, princesa de Gales), jóias portuguesas, apainelados Luís XIV e XV, tectos e azulejos nacionais.
Relógio da imperatriz Sissi
O núcleo de relógios é considerado dos mais valiosos a nível mundial. É, aliás, o mais original da Europa. Constituído por 600 exemplares, datados de 1600 a 1968, tendo alguns pertencido a Fouquet (ministro de Luís XIV), ao Rei Jorge III de Inglaterra, à Rainha Catarina de Bragança, ao general Junot, ao Duque de Wellington, à Imperatriz Sissi da Áustria (presente de casamento, oferecido por Luís II da Baviera), ao Rei D. Pedro V e à Rainha D. Maria Pia de Portugal.
Nos anos 80 a situação financeira foi-se estabilizando, mas Medeiros e Almeida continuou a ir a pé, diariamente, para o escritório na Rua Braamcamp, em Lisboa. Morrerá a 19 de Fevereiros de 1986, aos 91 anos. A sua casa-museu, aberta ao público em 2001, é considerada uma "segunda Gulbenkian".
António Brás




Em 9 de Junho de 1942 desembarcou em Lisboa o fotógrafo, e mais tarde cenógrafo, Cecil Beaton. Estávamos em plena II Guerra Mundial, com Londres a sofrer fortes bombardeamentos, e a neutralidade portuguesa a ser debatida por alguns Aliados.
Lisboa estava repleta de espiões
Cecil Beaton chegou na qualidade de "artista militar", com instruções para fotografar os governantes e as personalidades de maior destaque.
A lista incluía o Presidente da República Óscar Carmona, o Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, passando por almirantes, generais, cardeais, ministros e senhoras da alta sociedade.
No seu diário, quase desconhecido entre nós, Cecil Beaton descreveu esse Portugal de forma arguta e incisiva. Instalado no Hotel Aviz, esperou cinco dias para usar a máquina de trabalho, dado ser, então, proibido fotografar em Lisboa devido à proliferação de espiões no nosso país, consequência da sua não entrada na guerra.
Salazar o único que não recebeu Cecil Beaton
No referido diário, o visitante descreveu o ambiente (próprio de um Luís XVI) do hotel, destacando, entre os hóspedes, Calouste Gulbenkian e o seu gosto por caviar e ovos estrelados – que comprava, isso o autor não soube, a D. Maria de Jesus Caetano, a temível governanta de Salazar .
Acompanhado por Davo id Ecclex, conselheiro económico da embaixada inglesa, e de Marcus Cheke, diplomata e seu antigo colega de Harrow, visitou o Museu dos Coches e o Palácio de Queluz, monumento que comparou ao palácio da Cinderela.
Só no dia 5 de Julho Cecil Beaton iniciará o seu trabalho. Escreve que a sociedade portuguesa "é cinzenta e conservadora", que todos o receberam "com cordialidade", à excepção do presidente do governo.
Este evitá-lo-á, o que leva Cecil Beaton a compará-lo "a Greta Garbo" devido ao seu "profundo desejo de privacidade".
Fotos portuguesas de Cecil Beaton em Londres
O mesmo não sucedeu com Óscar Carmona, presidente da República, que o recebeu "com uma cortesia à moda antiga, apesar de ter acabado de receber uma dolorosa injecção numa perna".
Descrevendo o anfitrião, sublinha "a sua figura direita e ágil, envergando um casaco negro e calças às riscas, com o seu bigode branco levantado nas pontas e o cabelo penteado com uma precisão caligráfica, tinha a pose de um dandy de outros tempos".
As fotografias portuguesas de Cecil Beaton, preservadas no Museu Imperial da Guerra, em Londres, revelam-se notáveis.
Cecil Beaton: senhora cozinheira casou-se com o presidente
As fotos preto e branco, são marcadas pela estética característica do autor, onde as personalidades se projectam com surpreendente expressividade, em cenários de contrastes diversificados e apelativos.
Que ele reteve com pormenorizada elegância. "A decoração vitoriana do palácio proporcionava", descreve, "deliciosas fotografias: paredes revestidas de brocada cor de mostarda, um enorme relógio de prata dourada".
E termina com uma nota de subtil intimidade: "Em muitas das molduras havia uma senhora que, segundo se diz, tinha sido sua cozinheira, e com quem o presidente se casara recentemente".


Há festas no Palácio de Queluz
Festas especiais com representação, aqui ficam os preços, Grupo até 25 participantes320 €
Informações adicionais: As festas de aniversário realizam-se mediante agendamento prévio através dos contactosinfo@parquesdesintra.ptou +351 21 923 73 00, Idioma: português
Consulte todas as condições
Como chegar
Planeie antecipadamente o seu trajeto para chegar ao monumento à hora desejada




Não fosse a exortação de Natália Correia 'a cultura é para comer' e passávamos ao largo do cafetarias-restaurante da Casa-Museu Medeiros e Almeida.
A cafetaria tem um ambiente intimista e ocupa as antigas zonas de serviço da casa, ligadas a uma acolhedora esplanada, onde dominam o requinte e o conforto.
Neste roteiro que temos publicado por restaurantes e cafeteiras de museus e fundações sublinhamos agora a cafetaria-restaurante Centro Cultural de Belém (CCB).
O Centro foi inaugurado em 1993 e os seus jardins, com entrada livre, são frequentados, por estudantes e intelectuais. Os seus arquitectos, Vittorio Gregotti e Manuel Salgado, optaram por superfícies relvadas com palmeiras, oliveiras e pequenos cursos de água.
Encontrámos um jovem, Jorge Tainha, finalista de Direito, a agradecer à cafeteria do CCB: "Aqui podemos estudar calmamente.
"Infelizmente muitos cafés de Lisboa deixaram de ser locais de estar e estudar, com grande prejuízo para os potenciais frequentadores". Jorge Tainha revela que "o CCB é utilizado por muitos universitários que, como eu, vieram de fora e vivem em residências ou quartos alugados".
Abençoada cafetaria-restaurante.
António Brás



O último solar português
PALÁCIO DA BREJOEIRA VENDIDO POR 20 MILHÕES
O Palácio da Brejoeira foi a derradeira casa nobre construída no antigo regime, sendo recentemente vendido por 20 milhões de euros a árabes que, provavelmente, o vão fechar ao público.
Localizado a seis quilómetros de Monção, antiga Quinta de Vale da Rosa, possui 18 hectares de vinha e 12 de parques e jardins.
Ao longo dos últimos 200 anos conheceu vários proprietários que o engrandeceram e notabilizaram, tendo sido edificado por Luís Pereira Velho de Moscoso, descendente de velhas famílias fidalgas minhotas, segundo um projecto de notável qualidade estética, com influência da arquitectura neoclássicado Palácio da Ajuda.
PALÁCIO DA BREIJOEIRA: 400 CONTOS (2 MIL EUROS)
O palácio desenvolve-se numa planta em L, possuindo duas alas e três torreões, profusamente ornamentado com cantarias em granito.
Orçado em 400 contos, verba fabulosa na época, nunca seria, no entanto, concluído. Simão Velho de Moscoso, um dos seus herdeiros, manteve nele uma autêntica corte.
Durante décadas a Brejoeira conheceu um ambiente feérico de festas e recepções.
"Neste palácio cantava-se e dançava-se até altas horas da madrugada. Quem chegava era convidado a permanecer, sem data de partir", conta Cláudia Fernandes, relações públicas da quinta.
UM CANTO DO PARAÍSO
No livro "Minho Pitoresco", José Augusto Vieira escreve que "nos salões vastos cantou-se, dançou-se e fez-se música", tornando a Brejoeira "um canto do Paraíso onde se comia e bebia bem divinamente.
As sombras dos jardins eram frescas, os lagos tranquilos, os parques deliciosos! Mas deliciosa era, sobretudo, a sua boémia!".
Simão Velho de Moscoso morre em 1881. A Quinta é herdada pelas famílias Caldas e Palmeirim de Lisboa. Nas décadas seguintes, todo o conjunto conhece forte degradação.
UM RESIDÊNCIA PARA D.DUARTE NUNO
Em tempos politicamente agitados, Salazar e Franco reúnem- se nos seus salões, bem como o príncipe Eduardo de Inglaterra que é ali homenageado com um banquete.
Salazar tem, então, a ideia de adquirir a Brejoeira e transformá-la em residência-oficial de D. Duarte Nuno, pai do actual Duque de Bragança, nos anos 50.
A sua abertura ao público, motivada para gerar receitas, torna-se um êxito. Novos proprietários tentam a vinicultura nos terrenos da herdade.
O SUCESSO DO VINHO ALVARINHO
Constroem uma adega e lançam com grande aceitação o vinho Palácio da Brejoeira, Alvarinho.
Posta à venda por 26 milhões de euros, é adquirida por um grupo de árabes. Com os seus salões hoje um pouco tristes, a Brejoeira revela-se um exemplar único entre nós.
António Brás
O relógio milionário que Salazar desprezou





A divulgação, em 1964, na imprensa inglesa que Medeiros e Almeida licitara, num leilão da Sotheby`s, um relógio Breguet por um valor equivalente a um milhão de euros, causou sensação.
Ao saber da notícia Salazar telefonou pessoalmente ao coleccionador pedindo-lhe para "ver a peça". Ao ser-lhe mostrada, o presidente do conselho tocou por breves minutos o relógio e logo o devolveu, enfastiado, com as palavras "tome lá isto".
Tratava-se de um relógio de bolso, em ouro, platina e aço, executado em 1807 por Louis Breguet para o general Junot, que em 1819 passou para o duque de Wellington, inimigos que se confrontaram na guerra peninsular.
Colecção de relógio é das melhores do Mundo
A preservação da colecção de Medeiros e Almeida era a grande preocupação sua, com um espólio abrangendo mobiliário português, francês e inglês dos séculos XVII a XIX, pinturas de Gossaert, Van Goyen, Moro, Ribera, Tiepolo, Boucher, Delacroix, terracotas chinesas, porcelanas da Companhia das Índias, tapeçarias francesas e flamengas, uma delas desenhada por Rafael, e jóias portuguesas.
O seu núcleo de relógios é considerado dos mais valiosos a nível mundial. É, aliás, o mais original da Europa.
Constituído por 600 exemplares, de 1600 a 1968, inclui alguns pertencentes ao Rei Jorge III de Inglaterra, à Rainha Catarina de Bragança, à Imperatriz Sissi da Áustria, ao Rei D. Pedro V e à Rainha D. Maria Pia de Portugal.
O coleccionador morreu a 19 de Fevereiros de 1986, aos 91 anos. A sua casa-museu, aberta ao público em 2001, é considerada uma "segunda Gulbenkian".


'O Palácio dos Dodges" de Francesco Guardi


Numa tarde em Paris, um arménio adquire a pintura "O Palácio dos Doges, Veneza" de Francesco Guardi.
Sem o saber, iniciava uma das maiores colecções particulares do século XX, e um núcleo de 20 quadros do grande mestre italiano – o maior a nível mundial.
Calouste Gulbenkian não possuía na época nada de grande relevância ao nível da pintura e escultura europeia.
Detentor de uma fortuna, Calouste Sarkis Gulbenkian, nascido a 29 de Março de 1869, na Turquia, de uma família arménia, tornara-se um dos nomes cimeiros no sector do petróleo.

Licenciado em engenharia, entregou-se aos combustíveis por decisão do pai. Este, banqueiro influente, fora dos primeiros empresários a perceber a importância futura do ouro negro - até ai menosprezado.
Depois de viajar pelo Médio-Oriente, onde conheceu os processos da sua extracção, Gulbenkian casa com Nevarte Essayan, arménia da alta sociedade, e fixa-se na Grã-Bretanha. Inicia a partir dela a construção de um gigantesco império.
Seduzido pela arte, torna-se rigoroso a coleccionar pinturas e esculturas de mestres europeus, móveis e pratas francesas setecentistas, porcelanas da China e de Sevres, jóias de Lalique, moedas clássicas gregas, arqueologia egípcia, faianças e azulejos do médio-oriente, tapeçarias europeias, lacas japonesas, rendas francesas, tapetes persas e livros de grande raridade.
António Brás
(primeiro de vários textos sobre Calouste Gulbenkian)

Os seus interesses na vida dirigem-se quase exclusivamente para os negócios, as artes e a natureza. Em jovem quisera, mesmo, ser botânico. Virando costas à vida social, fecha-se cada vez mais no seu universo dos negócios, recheado de preciosidades.
Curiosamente prefere habitar em hotéis a ocupar as suas luxuosas residências de Paris e Londres - que deixa para a mulher e os filhos Nubar e Rita.
Personalidade dual, concilia as suas facetas oriental e ocidental, racional esensitiva, esteta e comercial.
Caloutes Gubenkian foi uma benção para a Cultura portuuesa.

O PRAZER DE VIAJAR DEVAGAR
A volúpia de descobrir fortalezas e memórias, bosques e rios, gentes e crenças, gastronomias e músicas atrai cada vez mais viajantes.
País rico em termos históricos, artísticos, afectivos, com um imaginário e uma criatividade fascinantes, Portugal redescobre-se a si mesmo – revaloriza-se a si mesmo.
Serenidade, emoção, exotismo são algumas das características que individualizam o chamado turismo cultural.
Castelos, solares, templos, museus, ruínas, bairros, romarias, jardins, linhas férreas, passeios pedestres, aldeias histórias emergem actualmente como objecto de atracção crescente.
Toda a estrutura começou, há anos, a ser desenvolvida à sua volta. Instituições artística e grupos patrimoniais intensificam-se no sentido da sua afirmação e expansão.
As pousadas (hoje integradas no Grupo Pestana), surgidas em 1942 por iniciativa de António Ferro, tornaram-se, nessas rotas, espaços de eleição.
Únicas pelas suas características, em qualidade, em beleza, em enquadramentos, desempenham um relevante papel nos circuitos estabelecidos.
Patrimónios históricos (palácios e conventos de valor indeterminado) e regionais (paisagens de excepção), conheceram novo impulso nas últimas duas décadas.
O turismo em espaços rurais qualificados tem-se, alias, expandido desde os anos 80. Dezenas de solares e casas de aldeia foram já recuperados para acolher visitantes – o que fazem com êxito assinalável.
Este género representa cerca de 100 mil camas e oferece inúmeras vantagens. "O hóspede é recebido como um convidado num ambiente personalizado e familiar, o que se torna muito gratificante. Isso permite-nos, por outro lado, manter os edifícios e reanimar as tradições locais, como o folclore, a gastronomia e o artesanato", revela-nos Francisco Calheiros, pioneiro no sector.
Os solares possuem já um circuito de visitas a jardins do Minho, dada a grande beleza que eles oferecem, caso dos de Ponte de Lima, Guimarães, Celorico de Basto, entre outros.
Alojamentos em grande expansão entre nós são os chamados hotéis de charme. Muitos deles encontram-se instalados em palácios de grande valor histórico.
O requinte impera. Os restaurantes oferecem a gastronomia típica ou internacional, sendo locais muito frequentados. A rota dos vinhos é outra iniciativa verdadeiramente fascinante.
António Brás




Viajante incansável, Teixeira Gomes foi um homem excepcional como diplomata, presidente da República, escritor e coleccionador.
Embaixador em Londres após a proclamação da República, exerceu depois a chefia do estado sofrendo as agruras de um tempo instável que o levou a abandonar o cargo e a auto exilar-se na Argélia.
Como escritor revelou uma enorme plasticidade visual e, como coleccionador, um apuradíssimo sentido inovador.
Ecléctico, reuniu um conjunto de peças de grande valor adquirido em antiquários e leilões de Lisboa, Londres e Paris, que decoraram a embaixada portuguesa na capital inglesa e a sua casa da Giribita, em Caxias.
Ao partir para o exílio em 1925, Teixeira Gomes nunca mais voltou a Portugal morrendo ali em 1841, aos 81 anos.
As suas colecções constituíram um caso raro entre nós, espalhadas por diversos museus nacionais. Apenas uma diminuta parte ficou na posse das filhas.
A parte pictórica revela-se típica do gosto de fim de século, exemplificando o romantismo, o naturalismo e o realismo.
O núcleo doado ao Museu do Chiado inclui pintura portuguesa, espanhola, belga, francesa e inglesa abrangendo paisagens, retratos, cenas de costumes e naturezas-mortas, pouco habitual entre os coleccionadores portugueses.
Às obras doadas ao Museu Soares dos Reis são peças excepcionais, caso do Retrato de Elisa Wilfride, da autoria do Visconde de Meneses.
Manuel Teixeira Gomes acabou por entregar obras mais recuadas a outras instituições.
António Brás

Uma noite, num jantar em Veneza, a Marquesa de Cadaval fica sentada ao lado de Maria Callas e, em conversa, descobre que a diva gostaria de vir cantar a Portugal, mesmo gratuitamente.
Como pagamento pretendia apenas ser apresentado ao Rei Humberto de Itália que vivia, exilado, em Cascais.
Pouco depois, em 1958, Callas interpretava a Traviata no S. Carlos, em Lisboa, num espectáculo memorável.
Salazar e a governanta, D.Maria de Jesus, não vão a S. Carlos ouvi-la, mas fazem-no, empolgados, no remanso de S. Bento, através da Emissora Nacional que transmite a memorável récita da cantora.


Marquesa do Cadaval, à esquerda o cantor lírico François Duchelle e a viúva de Artur Rubinstei, Nella Rubinstein

Recepção na Quinta da Piedaade em Sintra. à esquerda a Marquesa do Cadaval

Marquesado Cadaval, à sua esquerdaJoão Paes e Nella Maissa

Rei Humberto e Marquesa do Cadaval
Na Quinta da Piedade, em Sintra, Olga Cadaval proporciona, então, durante um banquete, o encontro entre a soprano e o ex-soberano italiano, o que muito a sensibilizou.
Olga Nicolis de Robilant, nascida em Veneza, casara com o Marquês de Cadaval, D. António Álvares Pereira de Mello, fixando-se o casal em Portugal em 1930, na Quinta da Piedade, situada Sintra.
Os grandes concertos musicais
Em pouco tempo o solar modifica-se. O bom gosto, a riqueza, a criatividade, a paciência da nova senhora Cadaval operam milagres. Gente do mundo inteiro passa a frequentá-lo.
Com grande entusiasmo, a anfitriã organiza grandes concertos musicais. Rubinstein, Rachmaninov,
Rastropovitch, Pablo Casals, Bela Bartok, Muhai Tang, Ravel, entre outros, tornam-se presenças assíduas.
A marquesa preocupa-se, paralelamente, em incentivar jovens artistas promissores, caso de Nella Maissa, Sérgio Varela Cid, Nelson Freire, Maria João Pires, Olga Pratz e Martha Argerich.
Íntima dos grandes da Europa, convive com poetas, romancistas, políticos, actores, historiadores, etnólogos, entre eles Victorino Nemésio, Virgínia Rau, Francisco Leite de Faria, Amélia Rey Colaço, D`Annuncio, Marinetti, Ortega Y Gasset.
Marquesa herda 3 quintas em Sintra
Amiga de infância de Pio XII, torna-se visita assídua do Vaticano. Durante toda a vida serve de intermediária entre a irmã Lúcia, que contacta mensalmente nos dias 13, e os vários papas.
A Casa tem a sua génese num filho do II Duque de Bragança, descendente de D. Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável.
Em 1952 os bens da família são repartidos entre vários herdeiros, dando origem às casas Cadaval de Muge e de Évora.
A Marquesa de Cadaval herda três quintas em Sintra, o palácio e a propriedade de Muge, valiosas obras de arte, grande parte da biblioteca e de manuscritos – aliás a mais valiosa colecção privada do género existente em Portugal.
Na herdade são descobertos, na primeira metade do século XX, valiosos achados arqueológicos - sobretudo 16 esqueletos do paleolítico.
Museu dedicado à Casa de Cadaval
O resto do património reverteu essencialmente para D. Jaime Álvares Pereira de Mello, 10º Duque de Cadaval, que recupera a histórica Igreja dos Lóios, edificada entre 1507 a 1513, para panteão familiar.
Paralelamente é inaugurado no Paço das Cinco Quinas um museu dedicada à Casa Cadaval.
Ao longo dos séculos a Casa foi espoliada de diversos bens.
O palácio de Olivença viu-se ocupado pelas autoridades espanholas, os terrenos onde se encontra a Estação do Rossio, em Lisboa, e o Convento que alberga a pousada dos Lóios, em Évora, foram expropriados pelo Estado.
Em Dezembro de 1995 a Marquesa Olga morre, aos 96 anos, sendo considerada a maior mecenas da música em Portugal.
António Brás

Ir de Lisboa à Beira (a Baixa) por via-férrea era, outrora, uma viagem deslumbrante, vale do Tejo, Constança, Portas do Ródão, Castelo de Almourol, paisagens desfrutadas de comboio, em compartimentos de patine e afago.
Ir de Lisboa à Beira Baixa por via-férrea, hoje, tornou-se penoso e, para quem parte da Gare do Oriente, tenebroso, a estação a revelar-se um desarvorado ataque à saúde de quem, sobretudo no Inverno, a utiliza.
Carrocel de frio, de chuva, de correntes de ar, de correntes de vento, ela (estação do Oriente) revela, na sua gongórica arquitectura inumana, total desprezo pelo conforto dos que a utilizam.
Não há, por certo, construção pública entre nós tão geradora de desabrigos e incómodos como a dita Gare, cujos responsáveis (da sua aprovação e negócio) deviam ser questionados.

Tudo têm tirado às Beiras: jovens, transportes, escolas, correios, freguesias, memórias, tribunais, hospitais, jornai
Ir de Lisboa à Beira Baixa por via-férrea fez-se deslocação espinoteante em composições a fingirem de "modernas", sem conforto, sem insonorização, sem climatização, sem bar (apenas uma ínfima máquina de cafés e chocolates), sem charme, sem identidade - comboios de pindéricas linhas suburbanas, não (como foram no passado) de aprazíveis linhas nacionais.
Como foi possível fazer tal desconsideração às gentes de Castelo Branco, Alpedrinha, Fundão, Covilhã? zonas de vultos como, entre outros, António Ramalho Eanes,
Ir à Beira,
de comboio!
Vergílio Ferreira, Eugénio de Andrade, Eduardo Lourenço, Robles Monteiro, Maria Lalande, Cargaleiro, António Paulouro, Vasco Lourenço, António Guterres, José Sócrates.
Tudo têm tirado às Beiras: jovens, transportes, escolas, correios, freguesias, memórias, tribunais, hospitais, jornais - jornais que acabam de revelar terem as autoestradas da região perdido tráfego e a CP 47 milhões (em quatro anos) de passageiros.
O que fizeram aos caminhos de ferro portugueses nas últimas décadas (até lhes suprimiram o transporte, tão útil, de automóveis!) é indesculpável e incompreensível, sobretudo num país que sempre teve neles cuidados, elegâncias, funcionalidades de destaque, marcando o nosso imaginário paisagístico, cultural, económico, turístico de maneira indelével.
Pouca terra, pouca terra - para nenhuma terra!
António Brás

No centro-histórico de Braga, num palácio barroco, destaca-se o Museu dos Biscainhos agora reinaugurado, após obras no valor de um milhão de euros, que salvaram o imóvel de crescente degradação.
O museu preserva uma colecção de artes decorativas portuguesas dos séculos XVII a XIX, reflectindo interiores de grandes casas da aristocracia portuguesa.
Que incluem amplas cavalariças, cozinhas típicas, painéis com destacados figurativos joaninos.
As suas paredes, estucadas e marmoreados a vermelho, ostentam magníficos azulejos galantes atribuídos ao misterioso mestre P.M.P.
O tecto nobre, de grande impacto e beleza, data de 1724, sendo uma homenagem ao Beato Miguel de Carvalho, jesuíta martirizado no Japão, e antepassado da família que ali habitou.
Na chamada Sala do Estrado contemplam-se móveis acharoados, porcelanas Ming, contadores de estrado indo-português e pinturas religiosas.
O Salão de Música e de Jogos reflecte a confraternização que mudou os hábitos em meados de 1700, com bufetes revestidos a damasco, pianos, uma cómoda D. José.
As casas nobres portuguesas tinham uma biblioteca, denominada de Livraria, onde se conserva o cartório, conjunto de documentos sobre o património e administração dos proprietários.
A zona de claustro, sabiamente reconstruída em 1965, dá acesso aos quartos da casa, com pinturas parietais Império, mobiliário D. Maria e colchas de Castelo Branco.
O conjunto, adquirido pelo Estado em 1963, acaba de beneficiar de obras de recuperação que o destacam nos melhores roteiros turístico culturais agora abertos ao público.
António Brás
Um milhão para os Biscainhos

Ernesto Vilhena
O coleccionador faraónico
O português que mais colecções constituiu e diversificou foi Ernesto de Vilhena, oficial da armada e presidente da Companhia dos Diamantes de Angola. A sua colecção tornou-se lendária no mundo das antiguidades.

Um livro agora lançado da autoria de Maria João Vilhena de Carvalho, historiadora e conservadora da colecção de escultura do Museu de Arte Antiga, fornece-nos dados fundamentais sobre o comandante Vilhena.
A autora investigou durante anos a sua complexa personalidade. Uma tarefa morosa e complexa. A maioria das pessoas que privaram com ele já desapareceram, quer a nível familiar, quer a nível de antiquários e angariadores de obras de arte.
Acervo artístico com 60. 515 peças – artes decorativas, plásticas e biblioteca
O neto de Ernesto de Vilhena, Manuel, e a nora, Maria dos Prazeres, apoiaram a iniciativa com depoimentos orais e com o empréstimo do espólio do colecionador.
Neste, completamente desconhecido, encontram-se fotografias, um exaustivo diário, cadernos de viagem e notas de compras a antiquários e a intermediários de norte a sul de Portugal.
A historiadora pode relacionar as colecções hoje no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) e os locais das suas proveniências.
Desde 1922, Ernesto de Vilhena começou a coleccionar vastíssimos e riquíssimos espólios.
O seu acervo artístico compunha-se de 60. 515 peças – artes decorativas, plásticas e biblioteca - sendo totalmente preservado na no palacete da Rua de São Bento, em Lisboa.
O conjunto tinha 5837 cerâmicas, 3443 têxteis, 1059 metais, 182 leques, 2419 esculturas, 530 marfins, 526 pratas, 1039 móveis, 9639 azulejos, 191 cruzes, 2065 vidros, 236 pinturas e 354 diversos.

Trata-se da maior colecção jamais constituída em Portugal. O MNAA, principal instituição do género entre nós, detem actualmente 45 mil peças.
O chamado Palácio Vilhena, constituído por cerca de 50 divisões, estava completamente cheio.
A biblioteca encontrava-se no piso térreo, e as restantes obras de arte espalhavam-se por todo o espaço.
'Salazar insinuou ser tempo de abandonar a presidência da Companhia dos Diamantes de Angola'
Ernesto de Vilhena apreciava especialmente as secções de escultura portuguesa e de têxteis – colchas de Castelo Branco e indo-portuguesas – guardadas em arcas. No jardim do imóvel preservavam-se valiosos azulejos e rústicas esculturas em granito, parte delas fragmentadas.
Ao falecer em 1967, com 91 anos, deixou uma enorme colecção aos herdeiros, mas pouco capital. Conta-se que pretendera fazer uma fundação. Antes de morrer recebeu a visita de Salazar que lhe insinuou ser tempo de abandonar a presidência da Companhia dos Diamantes de Angola. Furibunfo, o colecionador rasgou o testamento.

A família realizou os primeiros leilões em 1969 e adquiriu, com essa verba, um prédio na Avenida de Roma.
A maioria das esculturas, 1503 peças nacionais e de Malines dos séculos XIII a XVIII, encontra- se actualmente, e por doação da mulher e do filho, no Museu Nacional de Arte Antiga.
Acervo avaliado em dezenas de milhões de euros
Esse acervo foi conseguido de norte a sul de Portugal através de viagens e de inúmeros intermediários.
Na época da entrega ao Estado as esculturas foram avaliadas em 24. 147 contos, o que deve equivaler a dezenas de milhões de euros na actualidade.
A biblioteca dos descobrimentos, uma das melhores em




mãos privadas, constituída por 2574 volumes, foi vendida em 1969 a Jorge de Brito por 26 mil contos. O banqueiro e os herdeiros dispersaram-na em leilões realizados na Alemanha em 1989, e em Portugal entre 2008 e 2009.
Rendeu cerca de 5 milhões de euros. A Biblioteca Nacional conseguiu adquirir alguns dos principais volumes. A colecção de arte que Ernesto Vilhena deixou acabou por ser leiloada entre 1969 e 2001. A biblioteca corrente (18288 volumes) foi transaccionada entre 1998 e 1999.
Os primeiros leilões não tiveram sequer um catálogo, neles foram dispersos colecções de vidros, marfins indo-portugueses, pratas, metais, cerâmicas e têxteis. A família negociou, ainda, com importantes antiquários milhares de lotes.
Estado adquiriu 26 tecidos Coptas dos séculos V a IX
O Estado adquiriu por 300 contos 26 tecidos Coptas dos séculos V a IX e 468 fragmentos dos séculos XIII a XIX.

\O conjunto estava em risco de dispersão, sendo salvaguardado por iniciativa de Maria José de Mendonça, então directora do MNAA.
Em anos recentes o Instituto Português de Museus adquiriu em sucessivos leilões realizados em Lisboa o tríptico "Calvário" de Frei Carlos e uma imagem setecentista de
Nossa Senhora da Conceição para MNAA, bem como painéis cerâmicos para o Museu Nacional do Azulejo.
O Vitória and Albert Museum compra colchas
A Fundação da Casa de Bragança comprou um par de cómodas francesas assinadas porMondon e uma arca indo-portuguesa, obras expostas no Paço Ducal de Vila Viçosa.

O Vitória and Albert Museum adquiriu privadamente a quase totalidade das colchas deCastelo Branco e as melhores esculturas indo- portuguesas em marfim. As mais raras porcelanas orientais foram leiloadas em Londres.
A viúva do colecionador doou móveis sacros ao Museu do Caramulo, a arca dos Gamas ao Museu de Marinha, e um conjunto de 12 colchas de Castelo Branco ao Museu Francisco Tavares Proença. A nora doou recentemente uma imagem policromada setecentista representando Santa Maria ao Museu Grão Vasco.
O palacete de São Bento, precioso pelo recheio e recordações, acabou por ser transaccionado no início do século XXI, decisão tomada pelo neto e pela nora que vivem entre o Estoril e a Áustria. O interior do imóvel foi demolido e transformado num condomínio. Hoje nada recorda a passagem de Ernesto de Vilhena pelolocal
António Brás

"Coisa Velha"
de Guerra Junqueiro é afinal quadro de Bosch
Com o desaparecimento da filha do poeta Guerra Junqueiro em1974, foi instituída a Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro e Luís Pinto de Mesquita Carvalho, dando-se início ao inventário (e estudo) das suas obras de arte, espalhadas pelas casas do Porto e Lisboa.
Descobre-se, então, uma pintura em muito mau estado de conservação, com superfícies enegrecidas e camadas de vernizes muito estalados.
Trata se de uma "Visão de Tondale", onde um anjo alado mostra o inferno a um jovem nu com as mãos juntas a rezar sobre paisagens tenebrosas, pontuadas por singulares jogos de escuros e amarelos.
Restaurado durante 20 anos
O trabalho do seu restauro inicia-se em 1979 tendo demorado 20 anos, sob a responsabilidade de Maria Fernanda Viana, que conclui estar perante uma obra atribuível a Jerónimo Bosch.
Estudos posteriores de Roger Van Schoute, Monique Van Schoute- Verboomen e Marie-Leopoldine Lievens-de-Waegh, especialistas flamengos, reforçam a conclusão da técnica portuguesa.
A camada pictórica, analisada no Instituto Real do Património Artístico de Bruxelas, comprova serem os materiais utilizados da época de Bosch e que o seu suporte, em carvalho, data do século XV.
Escritório de Junqueiro reconstruído
A instituição, que herda vastos espólios artísticos e literários praticamente desconhecidos, é apoiada pelos rendimentos provenientes da Quinta da Batoca, em Barca d`Alva.



Insuficientes, porém, recebe suportes da Câmara Municipal do Porto que lhe cede o Palácio Freire de Andrade onde se instala a sede.
No Escritório do Poeta, fielmente reconstituído, contemplam-se a secretária, fotografias de família e de grandes vultos das letras, bem como um retrato a óleo de António Carneiro, onde Junqueiro surge sorridente e observador.
No andar nobre, acessível por imponente escadaria em granito, destacam-se a Sala da Faiança Portuguesa, um ponto alto do museu, e a Sala da Pintura Antiga, constituída por obras das escolas catalã, italiana, flamenga e holandesa dos séculos XVI e XVII.
Pintura adquirida em Espanha
É nela que se encontra a "Visão de Tondale", adquirida em finais de 1800 pelo autor de "Os Simples" em Espanha. Após o seu desaparecimento ficou guardada num apartamento em Lisboa.
O poeta vendera em 1911, por uma quantia simbólica, um conjunto de 39 óleos, aguarelas e desenhos ao Museu de Arte Antiga. Nesse conjunto existem quadros da escola portuguesa, italiana, flamenga, francesa, catalã e holandesa dos séculos.
Anteriormente, em 1908, haviam si transaccionadas duas tábuas de El Greco denominadas "O Apóstolo Santo André" e "Cristo no Jardim das Oliveiras", hoje expostas no Museu de Belas Artes de Budapeste.
Guerra Junqueiro tentara vender, anote-se, essas obras ao Museu Portuense, mas a edilidade respondera que "já tinha muitas coisas velhas" - assim se tem tratado o património entre nós.
António Brás
Fundação Espírito Santo à beira do fim?

Encontra-se à beira do colapso a notabilíssima fundação criada há 70 anos por Ricardo Espírito Santo, em Lisboa, com o objectivo de preservar e apoiar as artes tradicionais portuguesas de que ele era grande apaixonado.
O seu precioso Museu-Escola de Artes Decorativas conhece dificuldades acentuadas por falta dos subsídios atribuídos do extinto BES, por escassez de encomendas e restauros, por insuficiência dos apoios da Santa Casa de Lisboa e do Estado - até um leilão recente de réplicas de móveis ficou muito abaixo das espectativas.
Só a venda de uma rara garrafa em porcelana chinesa, com as armas de D. Manuel ao Museu de Arte Antiga por 500 mil euros seria uma (derradeira?) lufada de ar fresco.
As infiltrações tornaram-se constantes bem como as avarias dos elevadores, a falta de encomendas, os ordenados em atraso, a irregularidade das doações. Entretanto, todo o acervo artístico da fundação, bem como a sede do museu, passaram, por iniciativa do Estado, a reverter, em caso de extinção, para a família.
São Bento tem móveis do Banqueiro
Ricardo Espírito Santo foi uma figura marcante na cultura, à época, do País. Era um homem afável e elegante, sensível e rigoroso, displicente e ousado e, sobretudo, multimilionário.
Uma amizade profunda ligou-o a Oliveira Salazar e a Amália Rodrigues, esta, então, em início de carreira e de ascensão social. Paciente, ensinou-a a afirmar o bom gosto, a assumir o talento.
Emprestou-lhe dinheiro para comprar o seu palacete de São Bento e ofereceu-lhe móveis do século XVIII para o decorar.
Outra mulher a quem iniciou na etiqueta protocolar (e a quem incentivou a comprar um andar em Benfica) foi D. Maria de Jesus Caetano Freire, a célebre governanta de Salazar. Visita afectuosa de São Bento, Ricardo Espírito Santo influenciou a decoração da residência oficial do Presidente do Conselho, que lhe dedicava, aliás ,especial simpatia e confiança.
"Todas as noites Salazar chamava o nosso amigo Ricardo. A conversa era sempre longa e insólita versando principalmente problemas de saúde dos dois", anotará a propósito a Condessa de Paris, nas suas memórias.
Banqueiro tinha horror aos aviões
Detestando viajar, tinha horror aos aviões, o banqueiro estabeleceu redes de agentes no Ocidente que o mantinham informado dos movimentos do mercado da arte em Londres, Paris, Géneve e Nova Iorque.
Os negócios de família, nomeadamente a banca, eram outra paixão sua. Empresário de sucesso foi uma pedra fundamental no alargamento do império Espírito Santo.

Quinta do Vinagre, Colares
À venda propriedade mais cara de Portugal

Palco de acontecimentos faustosos e requintados, a Quinta do Vinagre, uma das mais emblemáticas casas-de-campo portuguesas, resistiu ao longo dos tempos a terramotos, abandonos e incêndios. Agora encontra-se no mercado imobiliário por 30 milhões de euros.
Construída entre os séculos XVI e XVIII por D. Fernando Coutinho, filho do camareiro-mor de D. João II, bispo de Lamego e de Silves, que institui o Morgadio do Vinagre, seria adquirida em 1964 pelo casal Pierre e São Schlumberger, destinando-se a residência de Verão.


Quinta produz Vinho Colares Dique
Restaurada e ampliada com parques e vinhas (produz o célebre vinho Colares Dique), serviu de tema a D. Carlos para várias telas. O Rei chamava à sua proprietária, D. Maria José Bandeira, "Morgada dos cabelos de ouro". Pinturas de Picasso e Dubutett, esculturas de Henry Moore e Pimenta Beverly, destacam-se entre as obras de arte nela existentes.
As festas dos Schlumberger tornaram a Quinta do Vinagre um símbolo da alta sociedade ocidental, promovendo, sobretudo nos anos 60, recepções e banquetes frequentados por membros das casas-reais de Itália, Portugal e Holanda, pelos Duques de Windsor, por vedetas como Audrey Hepburn e Gina Lollobrigida.
A famosa festa de 1968
A festa mais famosa ocorreu em 4 de Setembro de 1968, com 1200 convidados, ceia servida pelo Hotel Ritz, que ficaria na história porque Salazar (desaconselhara as famílias dos governantes de ir, tal a sua ostentação) sofreu nessa altura uma queda no forte de Santo António do Estoril que lhe seria fatal pois marcaria o princípio do fim do Estado Novo.
A Quinta do Vinagre, avaliada em 30 milhões de euros - Pierre Schlumberger morreu em 1986 – aguarda agora comprador na inglesa Sotheby`s.
António Brás





Animais domésticos e robôs em vez de pessoas?

Não são só os robôs que estão a humanizar-se, são também os animais domésticos, sobretudo cães e gatos, os que vivem mais intimamente com pessoas, beneficiando de crescentes afeiçoamentos delas.
Essa é uma observação que vários cientistas, de vários quadrantes afirmam, baseados em investigações de resultados surpreendentes.
Opinião afim têm igualmente muitos dos que que convivem com os seus adoptados de quatro patas, que tratam como insubstituíveis. Ouvimos com frequência alguns dizerem que os preferem a conhecidos e amigos, mesmo a familiares.
A evolução de cães e gatos tornou-se, com efeito, expressiva, fazendo-os aproximar-se dos humanos, demonstrando entender, por uma sensibilidade irrecusável, certas emoções destes. Além de guias de pessoas incapacitadas, como invisuais, há os que, sozinhos, tomam transportes públicos, respeitam regras de trânsito, vigiam crianças, velam donos falecidos.
Quando as nossas comunidades estiverem melhor estruturadas, criar-se-ão espaços para eles, pois a distância entre racionais e irracionais está a diminuir.
Os segundos indiciam recuos devido a efeitos da inteligência artificial (e afins), e os primeiros a avançar, impelidos por energias desconhecidas, que especialistas atribuem à reacção da natureza contra a imparável degradação ambiental perpetrada pela humanidade.
Novas arcas de Noé vão ser precisas, não para águas e revolta mas para sobrevivências em perigo.
António Brás
Mundo cobiça porcelanas portuguesas

Do Oriente sempre nos atraíram, como se sabe, os marfins, os têxteis, os móveis, as lacas e, principalmente, as porcelanas da Companhia das Índias. Estas últimas são, por certo, as áreas mais conhecidas eestudadas entre nós.
Existem no País colecções preciosíssimas destas porcelanas, como as dos núcleos existentes nos museus de Arte Antiga e Anastácio Gonçalves, nas fundações Calouste Gulbenkian, Ricardo Espírito Santo, Medeiros e Almeida e Carmona e Costa, no Palácio da Ajuda, em Lisboa. No Porto evidenciam-se exemplares nos museus Soares dos Reis e Guerra Junqueiro.
Loiças das Indias encontam portugueses
A partir dos Descobrimentos, as porcelanas da Companhia das Índias impuseram-se progressivamente. As classes abastadas, deslumbradas com a sua expressão criativa, receberam-nas com grande entusiasmo.
Um verdadeiro frenesim atravessou os nossos palácios, conventos e igrejas que rapidamente se engrandeceram com elas. As salas de jantar passaram a ostentar sumptuosos serviços (por vezes com mais de 600 peças) utilizados nas refeições diárias.
Os altares das igrejas brilhavam, por sua vez, com potes, canudos e jarras de grande riqueza decorativa.
Europa rende-se às porcelanas das Indías
Os portugueses têm sido desde o século XVI os maiores coleccionadores desta porcelana, hoje património mundial. A contribuição que deram para o seu fabrico e expansão foi notável, embora pouco conhecida.Rapidamente a moda chegou à Europa, servindo o nosso Pais de intermediário entre o Oriente e o


Ocidente. Inicialmente os holandeses, ingleses e franceses preferiam a reprodução de gravuras europeias, de flores e paisagens orientais nas peças encomendadas que eram, essencialmente, utilizadas como objectos decorativos
A nossa preferência foi sempre para peças reproduzindo brasões de casas nobres, monogramas e símbolos religiosos. Este gosto tornou as peças portuguesas de grande raridade e valor.
Americanos aderem à porcelana chinesa
No século XIX a moda chegou aos Estados Unidos, onde se iniciaram grandes colecções de porcelana chinesa.
As nossas peças tornam-se as mais procuradas e valorizadas – o que não tem parado de aumentar.
Actualmente os seus preços atingem verbas exorbitantes, sendo disputadas pelos maiores museus e coleccionadores mundiais.
Nos últimos anos assistiram-se a verdadeiros recordes. Um gomil (jarro de lavatório) com as armas do Rei D. Manuel I foi vendido na leiloeira Sothbey`s, em Londres, por 250 mil euros, tendo integrado o acervo do Museu da Fundação Ricardo Espirito Santo, que o vendeu o ano passado ao Museu de Arte Antiga por 500 mil euros.
No mercado nacional, um par de potes, datado de 1730, chegou aos 75 mil euros; uma terrina setecentista em forma de Javali alcançou 50 mil euros, e um serviço de jantar (composto por 35 peças) do século XVIII, decorado com pavões, ultrapassou os 35 mil euros.
António Brás
Mundo cobiça porcelanas portuguesas

Do Oriente sempre nos atraíram, como se sabe, os marfins, os têxteis, os móveis, as lacas e, principalmente, as porcelanas da Companhia das Índias. Estas últimas são, por certo, as áreas mais conhecidas eestudadas entre nós.
Existem no País colecções preciosíssimas destas porcelanas, como as dos núcleos existentes nos museus de Arte Antiga e Anastácio Gonçalves, nas fundações Calouste Gulbenkian, Ricardo Espírito Santo, Medeiros e Almeida e Carmona e Costa, no Palácio da Ajuda, em Lisboa. No Porto evidenciam-se exemplares nos museus Soares dos Reis e Guerra Junqueiro.
Loiças das Indias encontam portugueses
A partir dos Descobrimentos, as porcelanas da Companhia das Índias impuseram-se progressivamente. As classes abastadas, deslumbradas com a sua expressão criativa, receberam-nas com grande entusiasmo.
Um verdadeiro frenesim atravessou os nossos palácios, conventos e igrejas que rapidamente se engrandeceram com elas. As salas de jantar passaram a ostentar sumptuosos serviços (por vezes com mais de 600 peças) utilizados nas refeições diárias.
Os altares das igrejas brilhavam, por sua vez, com potes, canudos e jarras de grande riqueza decorativa.
Europa rende-se às porcelanas das Indías
Os portugueses têm sido desde o século XVI os maiores coleccionadores desta porcelana, hoje património mundial. A contribuição que deram para o seu fabrico e expansão foi notável, embora pouco conhecida.Rapidamente a moda chegou à Europa, servindo o nosso Pais de intermediário entre o Oriente e o


Ocidente. Inicialmente os holandeses, ingleses e franceses preferiam a reprodução de gravuras europeias, de flores e paisagens orientais nas peças encomendadas que eram, essencialmente, utilizadas como objectos decorativos
A nossa preferência foi sempre para peças reproduzindo brasões de casas nobres, monogramas e símbolos religiosos. Este gosto tornou as peças portuguesas de grande raridade e valor.
Americanos aderem à porcelana chinesa
No século XIX a moda chegou aos Estados Unidos, onde se iniciaram grandes colecções de porcelana chinesa.
As nossas peças tornam-se as mais procuradas e valorizadas – o que não tem parado de aumentar.
Actualmente os seus preços atingem verbas exorbitantes, sendo disputadas pelos maiores museus e coleccionadores mundiais.
Nos últimos anos assistiram-se a verdadeiros recordes. Um gomil (jarro de lavatório) com as armas do Rei D. Manuel I foi vendido na leiloeira Sothbey`s, em Londres, por 250 mil euros, tendo integrado o acervo do Museu da Fundação Ricardo Espirito Santo, que o vendeu o ano passado ao Museu de Arte Antiga por 500 mil euros.
No mercado nacional, um par de potes, datado de 1730, chegou aos 75 mil euros; uma terrina setecentista em forma de Javali alcançou 50 mil euros, e um serviço de jantar (composto por 35 peças) do século XVIII, decorado com pavões, ultrapassou os 35 mil euros.
António Brás
Mundo cobiça porcelanas portuguesas

Do Oriente sempre nos atraíram, como se sabe, os marfins, os têxteis, os móveis, as lacas e, principalmente, as porcelanas da Companhia das Índias. Estas últimas são, por certo, as áreas mais conhecidas eestudadas entre nós.
Existem no País colecções preciosíssimas destas porcelanas, como as dos núcleos existentes nos museus de Arte Antiga e Anastácio Gonçalves, nas fundações Calouste Gulbenkian, Ricardo Espírito Santo, Medeiros e Almeida e Carmona e Costa, no Palácio da Ajuda, em Lisboa. No Porto evidenciam-se exemplares nos museus Soares dos Reis e Guerra Junqueiro.
Loiças das Indias encontam portugueses
A partir dos Descobrimentos, as porcelanas da Companhia das Índias impuseram-se progressivamente. As classes abastadas, deslumbradas com a sua expressão criativa, receberam-nas com grande entusiasmo.
Um verdadeiro frenesim atravessou os nossos palácios, conventos e igrejas que rapidamente se engrandeceram com elas. As salas de jantar passaram a ostentar sumptuosos serviços (por vezes com mais de 600 peças) utilizados nas refeições diárias.
Os altares das igrejas brilhavam, por sua vez, com potes, canudos e jarras de grande riqueza decorativa.
Europa rende-se às porcelanas das Indías
Os portugueses têm sido desde o século XVI os maiores coleccionadores desta porcelana, hoje património mundial. A contribuição que deram para o seu fabrico e expansão foi notável, embora pouco conhecida.Rapidamente a moda chegou à Europa, servindo o nosso Pais de intermediário entre o Oriente e o


Ocidente. Inicialmente os holandeses, ingleses e franceses preferiam a reprodução de gravuras europeias, de flores e paisagens orientais nas peças encomendadas que eram, essencialmente, utilizadas como objectos decorativos
A nossa preferência foi sempre para peças reproduzindo brasões de casas nobres, monogramas e símbolos religiosos. Este gosto tornou as peças portuguesas de grande raridade e valor.
Americanos aderem à porcelana chinesa
No século XIX a moda chegou aos Estados Unidos, onde se iniciaram grandes colecções de porcelana chinesa.
As nossas peças tornam-se as mais procuradas e valorizadas – o que não tem parado de aumentar.
Actualmente os seus preços atingem verbas exorbitantes, sendo disputadas pelos maiores museus e coleccionadores mundiais.
Nos últimos anos assistiram-se a verdadeiros recordes. Um gomil (jarro de lavatório) com as armas do Rei D. Manuel I foi vendido na leiloeira Sothbey`s, em Londres, por 250 mil euros, tendo integrado o acervo do Museu da Fundação Ricardo Espirito Santo, que o vendeu o ano passado ao Museu de Arte Antiga por 500 mil euros.
No mercado nacional, um par de potes, datado de 1730, chegou aos 75 mil euros; uma terrina setecentista em forma de Javali alcançou 50 mil euros, e um serviço de jantar (composto por 35 peças) do século XVIII, decorado com pavões, ultrapassou os 35 mil euros.
António Brás