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Imagem roubada do Mosteiro dos Jerónimos, onde Vasco da Gama se ajoelhou antes de partir para a ìndias

Quadro de São Pedro de Grão Vasco

Algumas obras do Tesouro de Nossa Senhora da Oliveira

Coroa roubada em Haia


Há várias teorias da conspiração sobre o desaparecimento do valioso tesouro de Nossa Senhora da Oliveira. Já passaram 50 anos! E nada. O roubo ocorreu no Museu Alberto Sampaio, em Guimarães.


O assalto foi em pleno dia, imobilizaram um dos guardas do museu e levaram uma coroa, uma meada com 32 metros, um cordão, um grilhão e uma cruz indiana, tudo em ouro, além de um peitoral em prata dos séculos XVII e XVIII.

A Polícia Judiciária apurou que as jóias foram derretidas. Mas uma jóia derretida baixa de forma considerável o seu valor.

Um ex-tenente do Exército e uma ex-secretária de um partido político foram acusados do roubo e refugiaram-se no Brasil.

Ambos foram condenados à revelia, respectivamente, a 20 e 15 anos de cadeia, e ao pagamento de um milhão de contos ao Estado português, que não cumpriram.

No fim nem se recuperou as obras, nem se viu o pagamento e parece desconhecer-se onde está o tal metal fundido.

CRESCEM OS ROUBOS EM MUSEUS E PALÁCIOS

A falta de meios humanos da Policia Judiciária tem causado a Portugal milhões de euros de prejuízo e a perda definitiva de obras de arte insubstituíveis.

Isabel Maria Fernandes, responsável pelo centro cultural de Guimarães afirma que "foi um grande atentado à nossa cultura".

"0 nosso País é um paraíso para os ladrões de obras de arte". Pinturas, esculturas, móveis, porcelanas, jóias, marfins e pratas são o principal alvo dos roubos, devido à sua elevada qualidade.

Os museus e palácios têm registado uma crescente onda de roubos de peças únicas muito valiosas. No ano passado ocorrem nove roubos comunicados à Policia Judiciária em museus de Ponta Delgada, Braga, Aveiro e Lisboa.

ROUBOS MUDAM CRITÉRIOS DE EMPRÉSTIMO

Peças como o Loudel de D. João I e o Tríptico Comemorativo da Batalha de Aljubarrota deixaram de ser emprestadas pelo Museu Alberto Sampaio, de Guimarães,.

As fundações Gulbenkian e Serralves e o Instituto Português de Museus, com a tutela 29 museus, têm investido em modernos sistemas de protecção e de vigilância, como alarmes e câmaras de vídeo a funcionar 24 horas por dia.

Mas a maior mudança veio com o roubo de jóias portuguesas em Haia, nos Países Baixos. Um roubo nunca visto, desapareceram obras muito valiosas em apenas 17 minutos. Foi a maior delapidação de jóias do Palácio da Ajuda.

LADRÕES ENTRAM POR JANELA DE MUSEU DE HAIA!

O Palácio guarda as jóias reais e emprestou várias no âmbito de uma mostra criação de obras de arte com diamantes em Haia, nos Países Baixos.

Os ladrões arrombaram uma simples janela do Museu de História Natural de Haia e levaram as jóias, sem deixarem rasto. "Eram das peças mais valiosas do nosso património", lamenta Luís Castelo Lopes, especialista em joalharia da leiloeira Palácio do Correio-Velho,

As jóias estavam seguradas em seis milhões de euros, mas o seu valor artístico é bastante superior. As mais importantes jóias roubadas são um castão de bengala e um diamante em bruto.

O primeiro, em ouro cinzelado, estava cravejado com 87 diamantes, pesando o principal 24 quilates. Foi executado para o Rei D. José, entre 1759 e 1770, por um famoso ourives parisiense.

´FOI-SE` UM DOS MAIORES DIAMANTES

O segundo, é um diamante proveniente de minas brasileiras de 135 quilates,  um dos maiores do mundo.

As restantes peças desaparecidas incluíam uma gargantilha com 32 brilhantes de 15 quilates, um anel com um diamante de 37 

quilates e dois alfinetes de 43 quilates em forma de trevo. Em dois anos de investigações, a polícia portuguesa e a dos Países Baixos fracassaram por completo. Não encontraram qualquer pista.

"Habitualmente as jóias furtadas nunca aparecem pois acabam por ser lapidadas, desmanchadas ou vendidas clandestinamente", específica Luís Castelo Lopes, especialista em ourivesaria e administrador da Artbid.

A forma como foram cedidas as obras pelo Palácio da Ajuda foi alvo de severas críticas.

OBRA DE ARTE VIAJA NO COLO DE HISTORIADOR

Actualmente existem restrições relativas à circulação de 1200 das nossas obras mais valiosas e frágeis.

Entre elas destacam-se o quadro São Pedro, de Grão Vasco, do Museu de Viseu, o tríptico Tentações de Santo Antão, Os Painéis de São Vicente e a Custódia de Belém, do Museu de Arte Antiga, de Lisboa.

Recorde-se que a última destas peças foi ao colo do historiador Reynaldo dos Santos na viagem de avião para a mostra Arte Portuguesa 800-1800, em Londres.

"A colecção Gulbenkian tem também obras que jamais sairão de Lisboa, caso da estátua Diana, de Hondon, e o retrato de Madame Claude Monet, de Renoir", revela João Castel-Branco, ex-director do museu daquela fundação.

"As pinturas sobre madeira, os têxteis e os manuscritos", exemplifica, "merecem-nos também grande cuidado, dado serem extremamente delicados".

"Os roubos estão a crescer entre nós, atingem verbas consideráveis", revela-nos um inspector da Policia Judiciária. "A falta de meios técnicos e humanos não permitem grandes investigações ".

Museu Alberto Sampaio não dará trabaho à Policia Judiária, aprendeu com o susto de 1975 e não deixará sair o Loudel de D. João I e o Tríptico Comemorativo da Batalha de Aljubarrota.

GRAÇA MORAIS ROUBADA EM BELÉM 

Também o Museu da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, foi roubado, ficou sem colecção de numismática romana. Pouco depois desapareceu uma imagem indo-portuguesa em marfim representando o Menino Jesus. Feitas as  participações à polícia, aguardou-se e não houve quaisquer resultados.

O Paço Ducal de Vila Viçosa viu desaparecer de todos os seus mantos reais bordados a ouro. Do Museu de Arte Sacra de Viseu foi roubada uma rara cruz bizantina do século XII. Da Casa Museu José Relvas foram roubados relógios de Limoges, porcelanas da Companhia das Índias, desenhos de Delacroix e uma escultura flamenga. 

E até no Centro Cultural de Belém foi roubado um quadro de Graça Morais.

O Museu do Teatro em Lisboa não escapou e foi alvo de sonegação de jóias de cena, usadas por grandes actores portugueses.

AMADEU TAMBÉM FOI ROUBADO

Do Museu Amadeo de Souza Cardoso foi roubada uma tela uma tela de Amadeu. Da Igreja do Mosteiro dos Jerónimos foi roubada a imagem de Nossa Senhora de Belém, a quem Vasco da Gama orou antes de partir para a Índia. A lista é longa  e não está completa. Também nos jardins dos palácios de Queluz e de Monserrate têm desaparecido diversas estátuas em pedra.

A historiadora Raquel Henriques da Silva afirma: "A itinerância de obras de arte faz aumentar os perigos de roubo, além disso os tesouros nacionais não devem viajar. As pessoas devem deslocar-se aos países onde eles se encontram, para os ver".

Corre entretanto o rumor, no mercado de arte, de uma colecção obtida exclusivamente através de roubadas, localizada numa cidade alemãna. Quantas mais existirão no mundo?

Que coisa bizarra! Mas tenhamos esperança em lá encontrar alguns dos nossos tesouros, para os trazer de volta a Portugal.

António Brás.

Cómoda milionária

Por 253 mil euros foi leiloada uma meia cómoda D. José (séculoXVIII) no Palácio do Correio Velho, em Lisboa. Trata-se de um top verificado em transacções de mobiliário português. Peça em pau-santo, finamente entalhada e com ferragens em bronze, pertenceu à colecção José Abecassis que a adquiriu em Londres, em 1972 por 1000 euros. É considerada um dos melhores exemplares da marcenaria nacional de todos os tempos.

Palácio Ratton em livro

Esta publicação constitui um documento expressivo daquele imóvel que alberga o Tribunal Constituicional.

Da autoria do arquitecto Helder Carita, investigador da casa-nobre portuguesa, é um valioso contributo para a história de Lisboa.

O autor testemunha a evolução do edifício, inicialmente habitado pelos Ratton, que o edificaram no inicio do século XIX.

Novo museu

Abandonado, arruinado e desprezado, o Palácio dos Condes da Ribeira Grande foi recentemente recuperado pelo empresário Armando Martins. Erigido nos séculos XVII e XVIII, nele habitou a família Câmara, capitães-donatários de Ponta Delgada ao longo de séculos.

Desde finais do século XIX, o imóvel conheceu diversas transformações salvando-se a capela, alguns painéis de azulejo, a escadaria e alguns salões.

PALÁCIO DUQUES DE PAMELA

Doze milhões de euros é o valor pedido pelo Palácio Palmela/Campilho, em Cascais.

Trata-se de um imóvel edificado em 1866 pelos III Duques de Palmela que contrataram o arquitecto Thomas Henry Wyatt. internacional

Já no dominio da joalharia , um valioso conjunto de jóias portuguesas e europeias dos séculos XIX e XX tem vindo a ser apresentada pela joalheira Alexandra Matias, em Lisboa.

As peças adquiridas em Portugal e França integravam uma importante colecção de artes preservada num amplo andar no centro de Lisboa.

Colecção de jades Pedro Guimarães

A colecção do decorador Pedro Guimarães, constítuida por fundamente por jades da dinastia Song aos nossos dias, tem vindo a ser leiloada na Casa Marques dos Santos, no Porto.

Os vários leilões despertaram as atençõies internacionais pelo valor e raridade do conjunto.
O coleccionador, falecido no ano passado, juntou esse acervo nas suas muitas viagens ao oriente, conservando-o nas suas casas do Porto e Sesimbra. O conjunto de jades, hoje quase impossivel de reunir, exemplifica essa arte aos longo dos séculos.
Pedro Guimarães pensara transformer a casa de Sesimbra num museu de arte oriental, mas o seu desaparecimento prematuro deitou por terra esse sonho.        
   António Brás

Reinauguração do Museu de Setúbal

O Convento de Jesus conhece actualmente uma nova fase, tendo sido objecto de grandes obras para preservar o incalculável acervo do Museu de Setúbal. Nele podemos observar um vasto espóilio relacionado com a cidade do Sado.

O autor do projecto, eng. João Botelho Moniz, juntou nele os acervos da Santa Casa da Misericórdia, da Câmara de Setúbal e de inúmeras doações. Os seus amplos salões são engrandecidos por azulejos, cantarias e tectos pintados. Neles podem contemplar-se pinturas dos últimos 500 anos

David triunfa na Sala dos Arcos

O Museu Nacional do Azulejo revela-se um templo do azulejo português desde o século XV aos nossos dias. A instituição acaba de inaugurar a Sala dos Arcos, com projecto museográfico dos arquitectos Mariana Picarra e Luís Afonso Carvalho.

O espaço é dedicado exclusivamente ao azulejo barroco e rococo, onde se destaca o paínel "O Triunfo de David", obra imponente com nove metros de cumprimento por 1, 70 de altura.

Desde o período árabe que o azulejo faz parte do nosso quotidiano, tendo o seu maior incremento ocorrido no século XVI, época de prosperidade dilatada pelos Descobrimentos. Várias fábricas surgiram a partir de então, permitindo alargar, popularizar a sua utilização.

A mais célebre foi a do Rato, em Lisboa. Actualmente destacam-se a Sant`Ana e a Ratton

Na primeira metade do século XX observou-se uma renovação no seu sector, na qual se destacaram os nomes de Rafael Bordalo Pinheiro, Pedro Jorge Pinto, Pereira Cão e Jorge Colaço. Nas gerações seguintes, artistas como Maria Keil, Sá Nogueira, Almada, Alice Jorge, Pomar, Eduardo Nery, Vieira da Silva, Menez, Cargaleiro, Lourdes Castro, Querubim Lapa e Bela Silva, enriqueceram, diversificando, esse impulso criativo.                        António Brás

UM PSICÓLOGO COLECIONADOR

O psicólogo Jorge Manuel da Silva Ferreira, já falecido, que dedicou a vida a coleccionar pintura, desenhos e gravuras de artistas portugueses dos anos 60 a 2015, era, no entanto, quase desconhecido no meio. 

Todos os seus rendimentos iam para adquirir obras de arte e livros que enchiam dois apartamentos, (um t1 e um amplo t2) na zona de Cascais. primitivas africanas e um diminuto núcleo de cerâmicas e vidros. 

O acervo totalizava 420 obras. Os últimos anos do colecionador revelaram-se particularmente dificeis. Recusando tratamentos a um tumor, acabou por morrer durante a pandemia    de Covid no Hospital de Cascais. 

A quase totalidade dos herdeiros (12),recebeu o seu espólio. Sem filhos, com vagos primos, passou o tempo

Todos os seus rendimentos iam, no entanto, para adquirir obras de arte e livros que enchiam dois  apartamentos, um t1 vagos , passou mais de quarto décadas a coleccionar de Figueiredo, Pedro Saraiva, Ruth Rosengarten, Rui Serra, JoãoSalema, Inez Teixa.

Trata-se de um  excelente núcleo dos principais gravadores entre Viseu e o seixal, descobrem um familiar que a maioria nunca conheceu.

A colecção (invetarida por mim e leiloada em duas casas de Lisboa) atingiu largas dezenas de milhares de euros, tendo os apartamentos sido colocados no mercado.

Todos os sonhos de imortalidade se desfizeram.         António Brás


Natureza Morta de Eduardo Saraiva

Uma cadeira do tempo de Gonçalo Mabunda

Quando Natália pintava

Uma das facetas menos conhecidas de Natália Coreia foi a de pintora. Polifacetada, ela destacou-se, para lá da poesia, como cantora, jornalista, conferencista, editora, tradutora, deputada eretratista, retratos a óleo que fez durante dois anos, de singular expressividade e cromatismo. 

Em fase de profunda depressão motivada pela morte da mãe, figura decisiva na sua vida - morte de contornos misteriosos quando se encontrava no Brasil - refugiou-se na pintura como, afirmava, "terapia, tábua de salvação", que lhe permitiu, ultrapassada, retomar a escrita, sobretudo da poesia, a sua verdadeira forma de expressão. Desses retratos salientam-se o de Urbano Tavares Rodrigues (hoje no Museu Carlos Machado), o de Mariana Vilar (colecção particular) e dois auto-retratos, todos de tonalidade melancólica, obtida por cores de penumbrea suavidade e interioridade. Almada Negreiros, seu amigo de sempre, insistiu durante anos com ela para continuar a pintar, o que recusou – e, no final da vida, lamentou porque "se o tivesse feito estava rica e podia dispor de um motorista, uma das minhas ambições. Se há tanto funcionário que o tem sem nada criar, por que não oter eu também?"

Natália conduzia (muito mal) um velho Carocha, depois de ter espatifado um Fiat ferindo com gravidade o seu marido de então, o sr. Machado, e o que se lhe seguiu, o cineasta Dórdio Guimarães. Iam os três para Castelo Branco, de noite, quando ao passarem nas Portas do Ródão surgiu um camião TIR, todo iluminado. Maravilhada, ela exclamou, largando o volante, "parece uma catedral"! e estapou-se. Saiu ilesa.


Espreitar o passado de Lisboa no Museu do Chiado

Uma retrospectiva do retrato ao longo dos tempos encontra-se agora no Museu do Chiado.

A exposição, que engloba óleos,desenhos, fotografias e esculturas, vai de 1850 a 2023.

Entre os objectos expostos sobressaem obras fundamentais da arte portuguesa, caso de criações de António Manuel da Fonseca, Visconde de Meneses, Tomaz da Anunciação, Cristino da Silva, Columbano, Veloso Salgado, Mário Eloy, Amadeu de Sousa Cardoso.

Na mostra, ampla e diversificada, podemos ainda observar peças de Santa Rita Pintor, Júlio Pomar, Helena Almeida e Lourdes Castro, entre outros, que nos revelam a contínua evolução da arte (neste caso o retrato) desde o romantismo ao abstraccionismo, passando pelo naturalismo e modernismo.

O retrato revela-se fundamental na nossa cultura, pois os poderosos gostam de eternizar-se através dele, contratando os melhores artistas.

As obras provém do acervo do Museu do Chiado que detém a principal colecção de artes plásticas nacional – isso explica o vasto conjunto de trabalhos de Columbano.

Na exposição nota-se, no entanto, a ausência nomes como Medina, Malta ou Pinto Coelho (representados no museu) que tiveram, como se sabe, ampla carreira na Europa.

A escultura revela-se parca, destacando-se Soares dos Reis. O retrato em Portugal encontra-se relativamente bem estudado, especialmente por José Augusto França - nunca tendo sido, porém, realizada qualquer retrospectiva sua entre nós.

Em tempos, as principais casas nobres, ou religiosas, tinham galerias de retratos. A abolição das ordens religiosas e dos morgadios, respectivamente em 1834 e 1864, provocou a dispersão desse expressivo património.

A carreira de pintor-retratista era muito pretendida e a qualidade dessas obras também variava. Na actualidade podemos observar galerias de retratos nas casas de Sezim, Fronteira, Anadia e Mateus. Outras galerias, caso das de irmandades e beneméritos de misericórdias, revelam o tradicional gosto pela homenagem, e pela perenidade.

António Brás

Museu de Arte antiga recebe 10 milhões

usando telemóvel ou tablet cique no canto superior esquerdo para ver as outras paginas

Maria de Jesus Monge


O Museu de Arte Antiga vai levar uma reviravolta de 10 milhões de euros, que serão injectados pelo Estado. Mas não é só dinheiro! No topo ficará Maria de Jesus Monge - que anda a ser apoucada com polémicas sobre a sua carreira.

A nova directora é licenciada em história e mestre em museologia. Foi directora do Paço Ducal de Vila Viçosa entre 2000 e 2023 (vinte e três anos) e o resto são histórias sem tino.

Estou, aliás, ansioso para ver a primeira reviravolta no Museu Nacional de Arte Antiga, com 140 anos e apenas cinco mulheres no cargo de director: Maria José Mendonça, Maria Alice Beaumont e Ana Brandão e agora Maria de Jesus Monge.

Todas elas deixaram grandes obras. E com Maria Mendonça e Maria Alice assistiu-se a um notável enriquecimento do acervo.

A moldura exigente

Maria Monge vem colocar a cabeça numa ´moldura` exigente. Ou brilha ou fica exposta ao escárnio e mal dizer abominado por padre António Vieira, nos seus sermões há já 500 anos.

Eu visito com frequência o Museu Nacional de Arte antiga para ver e rever os famosos Painéis de São Vicente de Fora, envoltos em grandes discussões sobre os seus personagens, posições e capacidades. Pois, também acontece nos Paineis!

Maria Monge merece desde logo um apoio incondicional por aceitar o cargo e por trazer a mala do dinheiro em falta há muito.


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O antigo Palácio Portugal da Gama (ou Palácio de São Roque) na margem do Bairro Alto, com entrada nobre pelo Largo Trindade Coelho foi objecto de um livro descritivo. 

Nas suas páginas olissipógrafos e investigadores de diferentes áreas divulgam a recolha documental realizada. 

Desde as várias transformações arquitectónicas até às as caraterísticas patrimoniais e decorativas do palácio. 

É exposto o projeto de reabilitação do edifício, com o objetivo de o tornar util.

ORIENTE SEDUZ LISBOA


O novo espaço cultural da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, denominado Casa da Ásia, agora inaugurado, revela -se uma surpresa.

O restauro do antigo Palácio Portugal da Gama, onde se situa, foi criterioso e de bom gosto, atingindo a colecção que apresenta atinge um nível internacional invulgar, pela qualidade e diversidade. Sóbria e coerente, revela-se única entre nós, sendo de assinalar o investimento nela feito pela Santa Casa.

O País tem, finalmente, um museu da verdadeira arte oriental, longe das obras de encomenda, tão admiradas entre nós por exprimirem as relações económicas, políticas e culturais de Portugal com a China, a Índia, o Vietname, a Tailândia e o Japão.

A exposição expande-se por dois andares, harmonizando-se pela estrutura palaciana do edifício, com os seus amplos salões, escadarias e pátio interior, os amplos salões e o intimista pátio interior.

Os países representados têm, sublinhe-se, culturas milenares, individualizadas e universalizadas. A recolha das obras deve-se ao coleccionador Francisco Capelo, homem de colecções e de cultura, salientando-se terracotas, porcelanas, pinturas, mobiliários, lacas, metais, esculturas e têxteis, que abrangem quatro séculos.

A Casa da Asia, com depósitos ao nível dos grandes acervos mundiais, pretende continuar a enriquecer o seu espólio para não estagnar, como tantas vezes acontece noutros museus.                  António Brás


Um Picasso no Museu do Caramulo

Há meio século, um jovem economista português, Abel de Lacerda, chega ao Castelo de Púbol, em Espanha, para encontrar-se com Salvador Dali.

Este recebe-o e falam animadamente de assuntos artísticos. No final oferece-lhe uma magnífica aguarela denominada "Cavaleiro Romano na Ibéria". Com esse gesto, aliás singular na altura, Dali torna-se um mecenas português.

Apaixonado pelas artes e pelo desenvolvimento cultural do nosso País, Abel de Lacerda ambiciona fundar um museu com base no mecenato, pois todas as obras de arte deviam ser oferecidas por seus autores, empresários e coleccionadores.

Dotado de enorme sensibilidade e empenho, o jovem consegue reunir,

 dessa maneira, 150 obras - pinturas, esculturas, cerâmicas, tapeçarias, móveis, pratas e marfins desde a pré-história ao século XX.

O fim trágico

Paralelamente, Abel de Lacerda planeia a construção no Caramulo, onde a família era detentora da maior estância senatorial da Europa, de um museu. No entanto morre em 1957, num trágico acidente de viação, decidindo a família e os amigos criar uma fundação com o seu nome.

Dois anos depois é inaugurado no Caramulo o Museu Abel de Lacerda. Uma das peças que, nele, despertará maior atenção será a aguarela de Salvador Dali. Nela, o artista catalão retrata, como o título indica, um cavaleiro - guerreiro que vai caminhando sob nuvens ameaçadoras numa paisagem 

Um Alba (1952) português único feito para competição

montanhosa e agreste. O quadro, obra de traço classicizante, contém notórias influências surrealistas. Durante décadas ela foi a única peça de Salvador Dali exposta entre nós.

Centenário de Abel de Lacerda

Abel Lacerda é considerado um dos maiores beneméritos portugueses. Bisneto, neto e filho de médicos decidiu, no entanto, seguir Ciências Económicas e Financeiras. A morte do pai, Jerónimo de Lacerda em 1945, obriga-o a fixar-se no Caramulo e a administrar o império familiar. Ao mesmo tempo colecciona obras de arte, convivendo com artistas e coleccionadores. Sonha criar um museu próprio, diferente dos existentes, 

                          Quadro de Amadeo de Souza Cardoso

ideia que se torna realidade ao conseguir o apoio de 100 personalidades e doações de 150 obras de arte.

Museu foi convento 

O arquitecto Alberto Cruz projecta o futuro museu. Trata-se de um edifício clássico, de grande qualidade, em quadrado. Ao centro foi colocado o claustro oitocentista do Convento da Fraga, de Satão, então em risco de perder-se.

iA inauguração dá-se em 1958 não parando, a partir daí, do seu valioso acervo crescer e diversificar-se. Nele destaca-se uma enorme abrangência temporal desde o Neolítico ao século XX.

A pintura é o seu núcleo forte, abrangendo cinco séculos, com quadros excepcionais de Grão Vasco, Fernão Garcia, Diogo de Contreiras, Frei Carlos, Franz Pourbus, Jacob Jordaens, John Gorgon e Domingos Sequeira.

A arte-contemporânea portuguesa é outro sector muito qualificado, havendo obras desde o naturalismo aos nossos dias, evidenciando-se trabalhos de Silva Porto, Amadeo de Souza Cardoso, Aurélia de Sousa, Eduardo Malta, Eduardo Viana, António Soares, Francis Smith, António e Carlos Carneiro, Vieira da Silva e José de Guimarães.

Dali e Rodin pontuam na colecção

O núcleo principal é pontuado por obras internacionais – Dali, Picasso (tela denominada Natureza-Morta), Fernand Léger, Raoul Duft e Rodin.


Quadro de Salvador Dali

Nos têxteis, outra presença marcante, destacam-se tapeçarias de Tournay - série quinhentista comemorativa da chegada dos portugueses à Índia, conjunto de projecção mundial.

As artes decorativas, portuguesas e europeias, abrangem a faiança, o vidro, o esmalte, a porcelana, a ourivesaria, a joalharia e o mobiliário, contendo obras-primas, como uma garrafa chinesa datada de 1552, uma salva quinhentista em prata com brasão dos Almeida e dos Mello, e diversas arcas açorianas dos séculos XVI-XVII.

A arte Lusa-Oriental e Namban encontra-se representada através de exemplares de grande raridade na pintura, escultura, têxteis e marfins.

O último núcleo, o dos automóveis, constitui a maior colecção existente entre nós, com modelos de 1886 a 2000.

António Brás

A Fábrica do Rato é uma referência na história da faiança portuguesa. As suas peças estão em grandes museus portugueses e estrangeiros e, sobretudo, no mercado de antiguidades. 

Foi fundada há 250 anos em Lisboa e marcou a renovação das faianças, com criações de invulgar qualidade. Teve a benéfica influência da prataria francesa e das porcelanas da Companhia das Índias.

Na sua primeira fase, a produção, dirigida pelo italiano Tomás Brunetto, privilegiou, maioritariamente, bustos, estatuetas, potes, terrinas e aquários pintados com motivos naturalistas, em tons de branco, verde, amarelo e azul. Mas sua aceitação foi diminuta. 

A nobreza preferiu as porcelanas provenientes da China, Inglaterra e França e a burguesia considerava-as algo bizarras e fora de moda.

Marquês apoiou Faianças do Rato

A nossa antiga a tradição de menosprezarmos o que é nosso, atingiu as Faianças do Rato, no campo das artes.

As encomendas foram sempre diminutas e destinavam-se mais a agradar ao Marquês de Pombal do que ao gosto vigente. Foi o Marquês quem ajudou à sobrevivência da manufactura, apesar dos prejuízos, com os armazéns sem escoamento, as vendas ao desbarato, e as críticas demolidoras.

A escolha de Sebastião de Almeida, em 1771, para mestre da manufactura, marcará o início de um rumo diferente. 

É lançada a produção em quantidade de objectos de forte consumo, como serviços de mesa e azulejos, muito utilizados na decoração de palácios, igrejas e prédios da cidade. 

Predominavam os temas naturalistas e figurativos, com tons azuis, como observamos nos painéis do Paço Real de Caxias, Palácio Pombal de Oeiras, Palácio de Queluz, Quinta dos Azulejos, em Lisboa, e Palácio de Queluz. São exemplos relevantes.

Gostos do Povo levam à falência

As dificuldades voltaram a agravar-se, quando as Faianças do Rato procuram satisfazer o gosto popular. As encomendas da nobreza e da burguesia caíram.

Foi o êxito comercial popular que perverteu a identidade cultural das obras. Joaquim Milagres, nome destacado no sector, tentou entre 1811 a 1817 inverter a situação, investindo em linhas recuperadoras de exigência e qualidade iniciais. Sem resultado positivo, porque os prejuízos disparam, levando à falência da Fábrica de Faianças do Rato.

Segue-se um longo período de esquecimento, apenas quebrado pelos estudos de José Queiroz em 1907 e de Arthur de Sandão, décadas mais tarde. Recentemente o historiador José Meco considerou a Faiança do Rato a "mais brilhante realizada em Portugal, do século XVI à actualidade".

Muitos anos atrás, em 1936, a Câmara Municipal de Lisboa promovera a "Mostra de Cerâmica Olissiponense e, graças ao esforço do investigador Dom José Pessanha, revelaram-se conjuntos inéditos de trabalhos de artificies do Da Fábrica de Faianças do Rato.

Duquesa funda Faianças do Ratinho

Os museus de Arte Antiga e do Azulejo e da Cidade, em Lisboa, têm vários conjuntos das Faianças do Rato. O mesmo sucede com o Museu da Cerâmica nas Caldas da Rainha, o Paço Ducal em Vila Viçosa e o Museu da Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro, no Porto.

As colecções de António Capucho, Maldonado de Freitas e António Espírito Santo, dispersas em leilões nos últimos anos, têm igualmente exemplares de enorme valor.

A duquesa de Palmela e a condessa de Ficalho eram apaixonadas pelas manufacturas das Faianças do Rato e criaram, nos finais de 1800, a Fábrica do Ratinho, num pavilhão do Palácio Palmela, em Lisboa. Apesar da qualidade atingida, esta iniciativa seria fugaz.

Fainças atingem preços historicos

O mercado de arte português "redescobriu" a Faianças do Rato sobreviventes e valorizou-as de maneira ímpar. 

Um par de bancos de jardim, da colecção Palmela, atingiu 10 mil euros; um conjunto de quatro bustos representando as quatro estações chegou aos 40 mil euros; um par de cabos para colheres foi arrematado por 3 mil euros; uma tampa de selha foi vendida por 5 mil euros; um cesto de fruta subiu aos 5 mil euros e uma terrina foi transaccionada por 27. 500 euros.

Esse património é uma referência preciosa da criatividade, da originalidade dos nossos artistas. E quem tem estas peças faz um investimento seguro em faianças da mais alta qualidade.

António Brás

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Pormenor de um dos quadro mais famosos de Delacroix







António Medeiros de Almeida

Pintura-retrato da Imperatriz Sissi

"Na eventualidade de aumentarem as minhas dificuldades financeiras, preferirei recorrer à mendicidade do que desfazer-me de qualquer das peças que com tanto amor coleccionei para as deixar ao meu país", escreveu em 1978 António Medeiros e Almeida, referindo-se às 3000 mil obras de arte da Fundação com o seu nome, inaugurada cinco anos antes, então em risco.

Foi o importador dos 'Morris' 

Medeiros e Almeida tinha 83 anos e uma vida activa. Ganhara, como empresário, milhões em negócios de automóveis (importador da Morris), fábricas de álcool, açúcar e tecidos, em companhias de navegação e aéreas (o avião do filme Casablanca era de uma empresa sua), entre outros empreendimentos.

O capital conseguido foi, quase todo, investido em obras de arte, bem como na aquisição de dois palacetes com vasto terreno no centro de Lisboa. A revolução alterou-lhe, porém, o nível de vida. A limousine Austin Princess foi substituída por um mini, o pessoal dispensado, as aquisições de obras de arte canceladas, as festas extintas.

Medeiros de Almeida ligado Diana de Gales

A preservação da colecção, exposta numa moradia oitocentista e num anexo construído nos anos 70, tornou-se-lhe, a partir daí, a maior preocupação – como o texto acima bem exprime. 

 O espólio da fundação abrange mobiliário português, francês e inglês dos séculos XVII, XVIII e XIX, pinturas de Gossaert, Van Goyen, Moro, Ribera, Tiepolo, Boucher, Delacroix, bem como escolas de Rembrandt e Rubens, terracotas chinesas e porcelanas da Companhia das Índias, tapeçarias francesas e flamengas (uma delas desenhada por Rafael),

E ainda uma baixela inglesa oitocentista (encomendada pelo duque de Richmond, antepassados de Diana, princesa de Gales), jóias portuguesas, apainelados Luís XIV e XV, tectos e azulejos nacionais.

Relógio da imperatriz Sissi 

O núcleo de relógios é considerado dos mais valiosos a nível mundial. É, aliás, o mais original da Europa. Constituído por 600 exemplares, datados de 1600 a 1968, tendo alguns pertencido a Fouquet (ministro de Luís XIV), ao Rei Jorge III de Inglaterra, à Rainha Catarina de Bragança, ao general Junot, ao Duque de Wellington, à Imperatriz Sissi da Áustria (presente de casamento, oferecido por Luís II da Baviera), ao Rei D. Pedro V e à Rainha D. Maria Pia de Portugal.

Nos anos 80 a situação financeira foi-se estabilizando, mas Medeiros e Almeida continuou a ir a pé, diariamente, para o escritório na Rua Braamcamp, em Lisboa. Morrerá a 19 de Fevereiros de 1986, aos 91 anos. A sua casa-museu, aberta ao público em 2001, é considerada uma "segunda Gulbenkian".

António Brás

Em 9 de Junho de 1942 desembarcou em Lisboa o fotógrafo, e mais tarde cenógrafo, Cecil Beaton. Estávamos em plena II Guerra Mundial, com Londres a sofrer fortes bombardeamentos, e a neutralidade portuguesa a ser debatida por alguns Aliados.

Lisboa estava repleta de espiões 

Cecil Beaton chegou na qualidade de "artista militar", com instruções para fotografar os governantes e as personalidades de maior destaque. 

A lista incluía o Presidente da República Óscar Carmona, o Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, passando por almirantes, generais, cardeais, ministros e senhoras da alta sociedade.

No seu diário, quase desconhecido entre nós, Cecil Beaton descreveu esse Portugal de forma arguta e incisiva. Instalado no Hotel Aviz, esperou cinco dias para usar a máquina de trabalho, dado ser, então, proibido fotografar em Lisboa devido à proliferação de espiões no nosso país, consequência da sua não entrada na guerra.

Salazar o único que não recebeu Cecil Beaton

No referido diário, o visitante descreveu o ambiente (próprio de um Luís XVI) do hotel, destacando, entre os hóspedes, Calouste Gulbenkian e o seu gosto por caviar e ovos estrelados – que comprava, isso o autor não soube, a D. Maria de Jesus Caetano, a temível governanta de Salazar .

Acompanhado por Davo id Ecclex, conselheiro económico da embaixada inglesa, e de Marcus Cheke, diplomata e seu antigo colega de Harrow, visitou o Museu dos Coches e o Palácio de Queluz, monumento que comparou ao palácio da Cinderela.

Só no dia 5 de Julho Cecil Beaton iniciará o seu trabalho. Escreve que a sociedade portuguesa "é cinzenta e conservadora", que todos o receberam "com cordialidade", à excepção do presidente do governo. 

Este evitá-lo-á, o que leva Cecil Beaton a compará-lo "a Greta Garbo" devido ao seu "profundo desejo de privacidade".

Fotos portuguesas de Cecil Beaton em Londres

O mesmo não sucedeu com Óscar Carmona, presidente da República, que o recebeu "com uma cortesia à moda antiga, apesar de ter acabado de receber uma dolorosa injecção numa perna". 

Descrevendo o anfitrião, sublinha "a sua figura direita e ágil, envergando um casaco negro e calças às riscas, com o seu bigode branco levantado nas pontas e o cabelo penteado com uma precisão caligráfica, tinha a pose de um dandy de outros tempos".

As fotografias portuguesas de Cecil Beaton, preservadas no Museu Imperial da Guerra, em Londres, revelam-se notáveis. 

Cecil Beaton: senhora cozinheira casou-se com o presidente

As fotos  preto e branco, são marcadas pela estética característica do autor, onde as personalidades se projectam com surpreendente expressividade, em cenários de contrastes diversificados e apelativos. 

Que ele reteve com pormenorizada elegância. "A decoração vitoriana do palácio proporcionava", descreve, "deliciosas fotografias: paredes revestidas de brocada cor de mostarda, um enorme relógio de prata dourada". 

E termina com uma nota de subtil intimidade: "Em muitas das molduras havia uma senhora que, segundo se diz, tinha sido sua cozinheira, e com quem o presidente se casara recentemente".