
BOTEQUIM
Edição de 24 a 30 Novembro 2025 sujeita a actualizações diárias
25 de Novembro
Eanes, a decência na política

Ramalho Eanes esteve para ser, em vez de Otelo Saraiva de Carvalho, o líder do 25 de Abril se, na altura, não se encontrasse no norte de Angola. Regressado a Lisboa é incumbido de presidir à Comissão ad hoc para a Imprensa, instituída a seguir ao derrube da Censura Prévia.
De início enfrenta generalizadas desconfianças dos jornalistas dada a rigidez da sua figura, o que levou alguns a tomá-lo por censor dos capitães. Será Natália Correia, pela sua perspicácia, das primeiras pessoas a desfazer publicamente tal equívoco.
Transita, pouco depois, para a presidência da RTP e chama Vitorino Nemésio, saneado por comunistas da estação, para retomar o "Se bem me lembro", popularíssimo programa do Professor. Promove a criação – porque Portugal precisava de rir – do duo Senhor Feliz e Senhor Contente. As intrigas à sua volta tornam-se, no entanto, de tal maneira abjectas que bate com a porta e sai. Vitorino Nemésio volta a ser saneado.
A Ramalho Eanes se deve, a partir daí, a estratégia que, consubstanciada no Documento dos Nove, gerou o 25 de Novembro de 1975, acção militar decisiva para a democracia no País. Com Vasco Lourenço, Melo Antunes, Loureiro dos Santos, Jaime Neves, Pézarat Correia e, sobretudo Costa Gomes, entre outros, evita a guerra civil. Ao faze-lo arriscou, se falhasse, ser preso e fuzilado.


Promovido a general, é eleito a 27 de Junho de 1976 chefe de Estado com 61,5 por cento de votos tornando-se, aos 41 anos, o mais jovem, mais grave, mais importante Presidente da República – mais importante, dadas as circunstâncias vigentes no pós Revolução de Abril.
De repente vê-se catapultado de oficial de Infantaria para presidente da República e presidente do Conselho da Revolução, liderando um País fracturado a braços com a perda do império, a integração dos (impropriamente chamados) retornados, a paralisia económica, as hostilidades do capitalismo e do comunismo nacionais e internacionais.
É hercúlea a acção que desenvolve: despartiriza as Forças Armadas, extingue o Conselho da Revolução, apoia a cultura, a justiça, a solidariedade, percebe a importância da lusofonia, a delicadeza da CEE e dos tratados internacionais.
Em Belém, a sua actuação surpreende pela austeridade, pelo rigor impostos. As refeições vêm da cantina do quartel da Ajuda, nos restaurantes paga a despesa do seu bolso, os carros oficiais só circulam em serviço, as deslocações de Estado são feitas em cargueiros da Força Aérea. Por insuficiência de verbas vende um apartamento que a mulher, Manuela Eanes, tem na Caparica a fim de aguentar despesas da presidência.

A sua postura leva-o a ser "olhado por alguns como um perigo, uma ameaça", palavras suas, e "detestado por outros por motivos pessoais, por antipatia, por preconceitos, porque eu a certa altura resolvi ajudar a fazer um partido político que era um pouco um anti partido".
Muitos são os que ou o idolatram ou o depreciam. Não recua, porém, mesmo que outros sejam afectados. "É verdade, deixei cair muitos amigos, pois tentei sempre que o exercício da função tivesse apenas a ver com os imperativos da função, não com as amizades, não com as relações familiares. Nunca tive na Presidência da República nenhum familiar meu. E alguns tinham habilitações e gosto em estar lá".
Os piores momentos da sua vida foram os que mediaram entre a entrada e a saída do PRD. "O poder é uma ficção", uma "encenação", comenta, "vivi um período em que tinha o poder formal mas não tinha o poder real , em 1980, antes de ser reeleito, quando os partidos e os políticos me hostilizaram."

António Ramalho Eanes é um homem de extrema afabilidade, disponibilidade para com os outros, as ideias, as situações dos outros: "É necessário que a solidariedade seja encarada de outra maneira. Se os desempregados, os excedentarizados não forem assistidos vamos ter aumentos de suicídios, de violências.
Deixada a presidência, tira na Universidade de Navarra o curso de Filosofia de Acção Directiva, recusa o bastão de Marechal, não aceita receber um milhão e 300 mil euros que os tribunais lhe atribuem por sonegação de direitos de um governo socialista,
recusa 100 mil euros de um prémio de prestígio, escusa um convite para ingressar na Academia de Ciências de Lisboa bem como outas honrarias e homenagens. "Abril ofereceu as liberdades mas esqueceu-se de criar cidadão!", exclama.
"Se houvesse uma ameaça gravíssima que pusesse em perigo a sobrevivência de Portugal, quem era a figura moral em quem confiava para nos defender?", perguntava-se numa sondagem. Oitenta (80) por cento dos inquiridos respondeu: Ramalho Eanes.
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Noite de Fado
para restaurar Presépio com 300 anos

Cândida Evangelista -Capela Nossa Senhora do Monte, Graça
Numa das colinas de Lisboa localiza-se a Capela dedicada inicialmente a São Gens, lendário Bispo de Lisboa e, mais tarde, a Nossa Senhora do Monte. A Capela original do século IV, foi reedificada no século XII e XVI, mas ficou profundamente danificada pelo terramoto de 1755, sendo reconstruída pouco depois.
O templo tem uma nave única dentro da tipologia barroca. A capela-mor é dominada pelo altar em talha dourada, anterior ao terramoto, com características Joaninas, dedicado a Nossa Senhora do Monte, ladeada por imagens de São Gens e São Domingos.

Dos lados da capela-mor observam-se quatro painéis de azulejos barrocos, da Fábrica do Rato, representado a Anunciação, a Natividade, a Circuncisão e a Crucificação.
Os dois altares laterais, o do lado da Epístola, pouco profundo, é dedicado a Nossa Senhora de Fátima, enquanto o do Evangelho, sob a evocação do Senhor dos Enfermos, imagem que pertenceu ao Colégio de Santo Antão-o-Novo, hoje Hospital de São José, tem a forma de uma capela elevada. Em tempos esta imagem era objecto de grande devoção. Os tectos, em abobadilha, são cobertos a estuque com pintura ornamental monocromática.
A cadeira de São Gens, encontra-se no lado esquerdo da entrada, sendo célebre pelas romagens de Senhoras em Esperanças ou em Transe de Parto, incluindo a Rainha Dona Mariana Vitória, mulher de D. João V, data do século IV mas foi valorizada no século XVII com um espaldar em lioz e mármore, assemelhando-se quase a um trono, tem por parede azulejos seiscentistas de padrão de inspiração têxtil.

Cadeira de S. Gens onde a crença afirma ter poderes de ajuda nos partos
por António Brás
Vai ser restaurado o presépio com mais de 300 anos da Capela de Nossa Senhora da Glória e São Gens, mais conhecida por Capela de Nossa Senhora do Monte.
Para ajudar no restauro decorre no próximo dia 27 de Novembro uma sessão de fados na Igreja da Graça, patrocinada pela revista Botequim, pt, com o objectivo de recolher os fundos necessários.
O Presépio é atribuido ao escultor António Ferreira e tem mais de 100 figuras, entre cenas da Bíblia e do quotidiano, dispostos em cinco planos. O resultado revela-se duma grandiosa encenação barroca plena de cor e luz.
As figuras são modeladas em barro cozido policromado, organizadas em cinco planos. Restauro será executado pelo especialista Andre Varela Remigio..
O presépio tem três metros de largura por dois de altura e dois metros de profundidade. A estrutura é em cortiça e madeira coberta de musgo, O seu realismo é impressionante.
Os elementos principais do presépio foram feitos por António Ferreira, os restantes, caso de homens, mulheres e elementos vegetais e arquitectónicos, são da autoria dos seus colaboradores., havendo ainda imagens mais recentes.
O Presépio revela-se completo, conseguindo representar os episódios mais importantes ligados ao nascimento de Jesus: a Natividade, Sagrada Família, Adoração dos Reis Magos, Adoração e Anunciação dos Pastores, Cortejo Régio e a Matança dos Inocentes.


O adro da Capela de Nossa Senhora do Monte é um dos mais vastos miradouros de Lisboa, onde se desenvolve a cidade desde o Castelo, a Graça, o Monte, a Penha de França, o Tejo, Monsanto e o aeroporto, dando-nos uma deslumbrante vista panorâmica.
A capela de Nossa Senhora do Monte continua local de profunda fé. Às terças- feiras reza-se Missa às 19 horas, e ao domingo às 09h30, estando aberta diariamente das 14 âs 18 horas.
O Outono da nossa desilusão

É ignóbil. A proposta de paz para Ucrânia prova que a América de Trump equilibra a sua economia na promoção da guerra em aliança com a Rússia.
Trump nem compareceu ao encerramento da reunião do G20. Recorde-se, também não convidou a União Europeia quando da sua tomada de posse. Trump é pessoa rude, anti-social, autocrático e um perseguido pelo escândalo sexual Epstein.
As condições para a paz na Ucrânia são uma clara violação do Direito Internacional: aceitam a alteração de fronteiras pela força, a restrição da soberania de um país e a intromissão não admissível do seu funcionamento democrático.
Trump tem vindo a exigir à Europa o pagamento de 5 por cento do PIB de cada país para o pagamento das armas, que entregaria à Ucrânia. Mas para quê? E ainda assegurou as terras raras daquele país.
Vale recordar, Trump havia prometido acabar com a invasão da Ucrânia em apenas 24 horas, depois da sua posse.
A América de Trump já não é um aliado fiável da Europa. O melhor amigo da Europa é a União Europeia. Apenas. AJ Breda
O traço comum do abismo, Miguel

Se o célebre cronista do Expresso (com podcast semanal) olhasse para o lado, quando caça..., veria um venturoso e um ministro sentados à mesa de um homem, que já se deu com Costa. A poucos metros. Para lá da cerca da herdade da Isabel.
O Estado é realmente um bom partido, sobretudo para os que enchem a boca a falar mal do Estado, mas que têm o Estado quase como único parceiro económico. Há 23 grandes famílias em Portugal peritas nisso, desde a monarquia.
A Visão e a Sábado já se fartaram de falar no assunto, de uma ou outra forma. É perigoso e o jornalismo está de esmolas.
Como dizia Ladeiro Monteiro, da CI* (angolana) e mais tarde do SI*, vem tudo escrito nos jornais. 95 por cento. Nem sequer é preciso andar a escutar telemóveis com o Pegasu*.
Vá lá Miguel! Uma ginginha e vamos falar de quem está a fornecer a pólvora para o foguetório que anda a queimar o País. VR

Quem tem um gato
tem tudo
Os gatos superam na importância as pessoas, que não aparecem, nem ligam, nem respondem.
Por causa disso, cá por casa não vedam as latinhas de Gromet. E o sabor de peixe está excluido, para não existirem dúvidas sobre a sua natureza humana, acho eu.
O gato é quem melhor nos conhece. Não pergunta, não cobra e compreende tudo. Há muitas teorias sobre o seu papel, energias e coisas assim. Mas eu contento-me com a omipresença.
Um dia li o "Cão Como Nós" de Manuel Alegre. Excelente. Também já tive duas Labradoras. Formidáveis! Mas não há melhor cão que um gato. Não nos larga. Felizmente.
Abençoado gato. jrr

"Cão Como Nós"
Manuel Alegre (n. 1936) é poeta, escritor e político, conhecido pela sua resistência contra a ditadura do Estado Novo, que o levou à prisão e ao exílio na Argélia. Após o 25 de Abril de 1974, regressou a Portugal, tornou-se um influente membro do Partido Socialista e desempenhou cargos como Vice-Presidente da Assembleia da República. A sua obra literária, com prémios como o Prémio Pessoa (1999) e o Prémio Camões (2017), aborda temas como a liberdade, a memória e o exílio.
O livro comovente
de Alegre
É um épagneul-breton a personagem principal do novo livro de Manuel Alegre. Com "manchas castanhas e uma espécie de estrela branca no meio da cabeça". Cão... como nós. Como nós, porque sabe da amizade (o cão é o melhor amigo do homem), da solidariedade, protege a criança, consola o dono, pressente a desgraça, 'chora' a morte. Mas também é altivo e irrequieto. Às vezes desobediente e exibicionista. Chama-se Kurika, e acompanhou o escritor e a sua família ao longo de anos. Aliás, ele 'é' parte da família, diz Manuel Alegre. Um livro alegre e comovente.
"...sendo sobre um cão, o livro é sobre os homens. Certos homens com um certo tipo de valores só aparentemente contraditórios: a liberdade e a fidelidade, a solidariedade, a independência, a altivez.
"(...) um belíssimo poema de amor de um homem a um cão. Como nós.
"(...) Por isso (a minha cadela, a gata) me tocou tanto este livro. E tenho a certeza que a tantos outros leitores, novos e velhos, pobres, ricos, remediados. Cada um a ver no Kuirika dos Alegre o seu Leão, o seu Tejo, o seu Farrusco, o seu Saikó, o seu Jimmy, a sua Mimi, a sua Ró-ró."
Adelino Gomes, Publico, Mil Folhas
"Na prosa desta pessoalíssima novela em forma de pequenas reflexões, Alegre consegue um equilíbrio perfeito entre um registo poético e humorístico. (...) Uma obra para ser lida por quem sabe de experiência própria. E porventura também pelos outros, já que não raras vezes... este cão fala por nós."
S.B.L., Visão da Wook
O bom humor não preço




As Estórias de Pinóquio
Teatro Intervalo, no auditório de Linda-a-Velha.
Inspirado na clássica história infantil, este Pinóquio convida-nos a refletir, com humor, ternura e música, sobre valores que nunca passam de moda: a honestidade, o crescimento e a importância de sermos fieis a nós próprios.
Entre aventuras, travessuras e lições de vida, acompanhamos o boneco de madeira que sonha ser um menino de verdade, guiado pelo amor do seu pai Geppetto e pela sabedoria do Grilo Falante.
Mas o caminho não é fácil, num mundo cheio de tentações e falsos "Joões Honestos"…


Teatro da Trindade INATEL
Dentro da gaiola só se esvoaça
.
de August Strindberg
Mais de 130 anos depois da estreia, Menina Júlia continua a ser um extraordinário tratado sobre sedução, desejo, ódio, repulsa, recalques e conflitualidade de classes. Numa época em que voltam a soar alarmes que julgávamos silenciados, João de Brito dirige Helena Caldeira, João Jesus e Rita Brütt num novo olhar sobre o clássico de Strindberg.
Menina Júlia estreia-se a 27 de novembro na Sala Estúdio do Teatro da Trindade INATEL, mantendo-se em cena até 18 de janeiro do próximo ano.
Companhia Nacional de Bailado com Orquestra Sinfónica Portuguesa
Romeu e JulietaEnsaio Geral Solidário
Criado em 2011 por Luís Moreira, ex-bailarino da CNB, o Ensaio Geral Solidário (EGS) é uma iniciativa que alia dança e responsabilidade social, e que tem marcado presença regular nos ensaios gerais da Companhia, realizados no Teatro Camões.
Em cada espetáculo, a CNB oferece o seu ensaio geral a instituições de solidariedade social, criando uma oportunidade concreta de mobilização: o acesso ao espetáculo é organizado pelas próprias instituições, que o utilizam como forma de angariar fundos e promover as suas causas junto da comunidade.

Horror em Itália
jornalista Gavazzeni denuncia
ricos caçam crianças a tiro
A Itália acordou em choque, homens ricos mataram crianças por "desporto" a tiro nas ruas da cidade europeia Sarajevo da Bósnia.
A denúncia foi feita pelo jornalista e escritor Ezio Gavazzeni e já tinha sido abordada pelo cineasta Miran Zupanič. Estes horríveis factos remontam aos anos de 1992 a 1996 na Guerra da Bósnia, quando os sérvios cercaram a cidade de Sarajevo por 4 anos.
A procuradoria de Milão está a investigar cidadãos italianos, de que se desconhece a identidade, por suspeitas de oferecer muitos milhares de euros às milícias sérvias em redor de Sarajevo para poderem disparar sobre os habitantes da capital bósnia. Matar uma criança custava mais que matar um adulto.
Em 2022, o cineasta esloveno Miran Zupanic publicou o documentário "Sarajevo Safari" onde descreveu o turismo de caça humana na Bósnia. Estrangeiros pagavam fortunas para disparar contra civis.
A investigação italiana está a ser liderada por Alessandro Gobbi, com base da denúncia do escritor Ezio Gavazzeni e de um relatório enviado à antiga presidente de câmara de Sarajevo, Benjamina Karić.

Avenida dos Franco-Atiradores é uma avenida central de Sarajevo, perto do rio Miljacka. Durante a Guerra da Bósnia (1992-1996), foi local de atiradores sérvios que dispararam sobre qualquer pessoa, tanto civil como militar. A avenida liga a zona industrial ao centro histórico da cidade. A primeira vítima de uma grande série foi Suada Dilberovic, uma jovem estudante.
Neste zona, todos os edifícios têm marcas de díspares de espingarda, armas semiautomáticas e automáticas. A avenida estava obstruída por contentores de mercadorias, automóveis, autocarros e eléctricos queimados que impediam a circulação, obrigando a um serpentear.
As únicas formas de atravessar esta zona era esperar pelos blindados das Nações Unidas usando-os como escudos. De acordo com um relatório de 1995, os franco atiradores alvejaram 1.030 pessoas, atingindo mortalmente 225.
Quem é o jornalista Ezio Gavazzeni
Os dados sobre Ezio Gavazzeni são escassos. Na Amazon rfere-se que é natural de Milão, colaborou com numerosos editores e agências como copywriter e editor.
Entrou na escola de Scrittura del CAM, Comune di Milano e poi della Soci COOP. Presidiu o prémio Giallo Independente.
Com a cancela Eclissi publicou Motel 309, Il Tempo non Dimentica e Rosso Notte, tendo como protagonista o investigador privado Manlio Rune.


como abutres benfazejos


o daniel na cova e sem os leões. finou-se ontem como se já não lhe interessasse todo o tempo do mundo. partilhámos mais trocadalhos que brindes de brancos maduros. ele acreditava que as pessoas de fé acreditavam
e nunca insistiu em estar mais perto do céu do que isso. penso nele ao raiar da jornada, tecto cinzento-escuro de núvens, andorinhas ao léu como abutres benfazejos. 'cada um é para o que morre', dizia sempre o daniel. e eu que cheguei a pensar que era piada... no face de JAM
Israel continua a bombardear Gaza
https://youtu.be/nuSfZUPsemQ?si=PQw_SpigCx779ueP
O genocídio da Palestina
A grande esperança será o envio de tropas de manutenção de paz, proposta apoiada pelo primeiro ministro espanhol
https://youtu.be/cJ1AkVpX_8M?si=g9C2YbzRFt-FGwWZ
Cartoonistas de olho em Trump




dão-nos um nome e um jornal


Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte
NATÁLIA CORREIA,


