
BOTEQUIM
Esgotaram as Leituras Dançantes
da Companhia de Bailado Portugal, 9 Maio 2025


Andamos na Lua e não vimos Ana Lacerda, um prodígio da dança.
Ao procurar Companhia Nacional de Bailado, somos atraídos pelas Leituras Dançantes e é impossível fugir ao olhar de Ana Lacerda.
Ao consultarmos o You Tube, abre-se um mundo maravilhoso onde Ana Lacerda é o centro do Universo. Não é poesia. Senti. Confesso.
Ó tristeza! Ter uma Lisboa semeada ao vento, impedindo e escondendo tamanhos talentos. Aliviem-se os programas escolares, onde os alunos grudam o rabo durante 90 minutos numa sala de aulas, com o entra-um-professor, sai-outro-professor.
Que interessa decorar tanta coisa, quando hoje é facilmente acessível e explicada por especialistas na internet. Os anos passam, perdemos espectáculos deslumbrantes, bálsamos para as melhores sinapses.
Em boa verdade, eu teria sido mais feliz, vendo Ana Lacerda dançar.
JRR
Ana Lacerda é bailarina Principal da Companhia Nacional de Bailado desde 1995. Integrou o elenco da Companhia em 1988. E tornou-se comendadora. Recebeu de Jorge Sampaio a Comenda da Ordem do Mérito no Palácio de Belém.
Natural de Lisboa, iniciou os seus estudos de dança aos cinco anos de idade. Frequentou a Escola do Centro de Formação Profissional da Companhia Nacional de Bailado do Teatro Nacional de São Carlos.
Dançou a maior parte do repertório apresentado pela Companhia Nacional de Bailado, e enquanto bailarina Solista e Principal interpretou obras dos dezenas de autores consagrados
Foi artista convidada em vários países, incluindo Alemanha, Itália, Rússia, Espanha, França, Holanda, Chéquia, EUA e Tailândia.
Teve como partenaires convidados, bailarinos como Carlos Acosta, Alen Bottaini, Filip Barankiewicz, Romel Frometa e Francisco Rousseau, entre outros.
A sua versatilidade artística mereceu-lhe menções de destaque pelas suas interpretações de papéis tanto de caráter clássico como moderno e contemporâneo.


Em 2003 e 2006 foi convidada a representar a NIKE WOMAN.
Em 2008 recebeu, pelas mãos dos Amigos da Dança, o Prémio Carreira, pelos seus 20 anos de carreira e pela sua interpretação no bailado Lago dos Cisnes.
Em 2009 recebeu o prémio de Melhor Bailarina na área de dança clássica no I Festival Prémios da Dança realizado em Portugal.
Atualmente dedica-se a dar coaching a bailarinos profissionais, jovens e crianças de várias escolas do país.
(texto baseado em texto do site da Companhia Nacional de Bailado)


E DEPOIS VEIO A PRIMAVERA
A aconchegante biblioteca do Conde Castro Guimarães, Cascais, onde o Fernando Pessoa tratou de arranjar ofício (desgraçadamente negado, ao que contava o Gaspar Simões). ao tempo em que o vício e outros hábitos já o não deixavam fazer do sonho um calendário e a primeira morte atropelou de rompante e em cirrose hepática a segunda vida. Muitas manhãs de inverno lá fui em vez dele, sentado à lareira ao fundo vai para 50 anos.
Fiz-me sócio mas o lugar era tão acolhedor que tomei por jura ser associado de um só livro. E assim li umas 4 vezes de seguida a História da Filosofia Ocidental, do Bertrand Russell, num único volume perigosamente do meu mesmíssimo e físico tamanho. E depois veio a primavera e os troncos de madeira cuidaram de migrar.
A seguir só lá. passava para descansar os costados nos cadeirões e as costelas que tenho ainda agradecem esses tempos. Fiz tudo menos tirar fotografias dos momentos: que ele há limites para o que é maior do que nós e bem dispensa a nossa fuça de aconchego, como se só a nossa fronha em pose soubesse corrigir a perfeição. Sorry lá, que é inglês p'ra 'desculpa lá'.

Responsáveis escolares acabam de propor "versões de exames em português não materno", revela a jornalista Maria Margarida, a fim de se facilitar a prestação de alunos que não falam o nosso idioma.

Desvalorizar a língua de um povo é desvalorizar o pensamento desse povo. É o que se passa quando se mexe numa língua sedimentada por muitas gerações, muitos séculos; quando se a contamina com palavras, com expressões de outras, sobretudo se mais poderosas;
quando, por acordos (ortográficos e afins) se alteram as suas estruturas, maneira de alterar as ideias, os comportamentos que geram; quando se permitem títulos de obras, canais de televisão, cursos de universidades, intervenções de políticos, de intelectuais, de jornalistas em inglês.

Aos malefícios em nós, no passado, da cultura francesa - que Natália Correia denunciou e hierarquizou em desaparecidíssimo ensaio – sucederam-se os da cultura anglo saxónica, através da língua inglesa que está a colonizar-nos escandalosamente.
O provincianismo tem sido devastador, como a desterritorialização criativa (quem não pertence a um lugar não pertence ao mundo), a sobranceria lobística, o desnivelamento social, o esbulho fiscal.
No começo os regimes, para se imporem, abrem-se à cultura. Foi assim no Estado Novo, foi assim no pós 25 de Abril. Consolidados, porém, logo passaram ou a manipulá-la ou a enxotá-la (à cultura), através de repressores, uns, de
sedutores, outros, as ditaduras controlando pelo silêncio, as democracias pelo chinfrim, as primeiras servindo ideologias, as segundas mercados.

A última revolução, a de 1974, trouxe a Portugal, por algum tempo, horizontes promissores de liberdade, de diversidade devido à acção dos militares que a ousaram.
Isso permitiu ao poder de então ser habitado por vultos da cultura, como no novo Parlamento (inesquecível a Assembleia Constituinte)

onde sobressaíram, entre outros, Sophia de Mello Breyner, Natália Correia, Manuel Alegre, Helena Cidade Moura, Henrique de Barros, José Manuel Mendes, José Manuel Tengarrinha; onde os políticos eram pessoas de cultura, Mário Soares, Álvaro Cunhal, Adriano Moreira, Sá Carneiro, Maria de Lurdes Pintassilgo, Freitas do Amaral, Melo Antunes, Francisco Lucas Pires.

A primeira fissura, porque cultural, isto é cívica, seria provocada pelo cerco a ele, Parlamento, de 12 para 13 de Setembro de 1975, faz agora 50 anos, por trabalhadores da construção civil, sob o impulso de forças extremadas que sequestraram durante 36 horas deputados eleitos democraticamente, entusiasticamente (90 por cento de votos) pelos portugueses.
De destacar, nessa dramática noite, a corajosa acção da poetisa Sophia de Mello Breyner no apoio a congressistas idosos e doentes, então em perigo de vida por impedimento de radicais (dentro e fora do palácio) em assisti-los. Agostinho da Silva, defronte do edifício, na manhã seguinte, dirá que a revolução se perdera aí, dada a impreparação dos seus líderes: não se pára à porta dos palácios a tomar.
Exposto, o PREC (Processo Revolucionário em Curso) impulsionou Ramalho Eanes (homem de cultura), com militares do 25 de Abril, a instaurar, dois meses depois, a democracia em Portugal, no 25 de Novembro de 1975, base para a afirmação cultural.

A cultura, essa, ver-se-ia depois fora da política, da informação, da actualidade (do futuro?), à direita e à
esquerda; a tal ponto que, hoje, deputados, governantes, militantes, professores acham que ela, e a língua portuguesa, não são temas a considerar. Nas campanhas e debates em curso, ninguém falou em cultura. Irá deixar de haver uma Pátria na língua portuguesa?
Fernando Dacosta

O futuro do Correio da Manhã (1)
Um futebolista resolveu comprar o jornal Correio da Manhã e os despedimentos tornaram-se previsíveis. Porquê?
Se o futebolista-patrão atirou, a um lago, o microfone de um jornalista do Correio da Manhã... esperava-se o quê?
O Correio foi fundado e dirigido durante décadas pelo genial Vitor Direito. Disse-me ele: "Não quero o jornal em mãos estrangeiras".
Ui! Pois o Correio da Manhã está agora nos...pés de um futebolista.



A SPA é uma notável cooperativa de responsabilidade limitada, fundada em Portugal em 1925. E dirigida por José Jorge Letria, um excelente presidente e autores de inúmeras obras.Tem por objetivo gerir direitos de autor.

José Jorge Letria é o Presidente da Sociedade Portuguesa de Autores. foi distinguido, em Junho de 2002, com a Medalha de Honra do Município de Cascais, tendo sido atribuído o seu nome à Escola EB 1 da vila, por si frequentada na infânc
José Jorge Letria estudou Direito e História na Universidade de Lisboa, sendo pós-graduado em Jornalismo Internacional e Mestre em "Estudos da Paz e da Guerra nas Novas Relações Internacionais" pela Universidade Autónoma de Lisboa. Doutorou-se com distinção em Ciências da Comunicação no ISCTE.
Foi, desde 1970 até Dezembro de 2003, redactor e editor de jornais como "Diário de Lisboa", "República", "Musicalíssimo","Diário de Notícias" e "Jornal de Letras", tendo sido, igualmente, professor de jornalismo, experiência da qual resultou a publicação de três livros sobre a matéria.


Poemas de Natália Correia ditos no YouTube
Natália Correia foi desses seres que chegam adiantados no tempo, vindos do futuro para no-lo antecipar. Miguel Torga dizia que ela nasceu póstuma.
A excepcionalidade de Natália Correia não lhe permitiu, por isso, caber nas normas, nas ideologias, nas culturas, nas religiões, nos sentimentos que a envolviam - e que logo ela extravasou, inovou.
